Diálogo, Libertação, Vida




Eu lembro,
O Senhor lembra Pai?
Naquele dia, perto daquela árvore,
Havia tanta gente doente ao meu redor,
Eu fazia parte delas,
Quem sabe era a pior,
Por ter um pouco da noção de quem És.
Lembro bem,
Eu era uma árvore seca,
Oca, sem galhos, sem raízes,
Sem flores, sem frutos,
Estava de luto,
Tudo em mim morrera,
Nada via nem sentia,
Anestesiada das dores,
Dos horrores que não soubera atravessar,
Das carências que nunca foram supridas,
Das falências que ninguém nunca soubera me educar,
Orfã de tudo,
Mudo era meu mundo,
E foi ali,
Olhando aquela árvore,
Naquele hospital, que nunca me vi tão sã,
Apesar da mente atordoada,
Que nosso "diálogo" foi tão profundo,
Tão sincero, tão delicado,
Que O vi quase "igual" a mim,
A intimidade era tanta que éramos Um,
Já não existia tempo nem humanidade,
Existiam dois em Um,
Minhas palavras eram Tuas,
As Tuas, minhas,
Um monólogo (não posso chamar de diálogo o que UMA só Voz falava e escutava ao mesmo tempo, coisas de Senhor, sei que entendes o que quero dizer, Pai), que me trouxe a vida,
Que mudou minha sorte,
Que me livrou da minha própria morte.



 
Teônia Soares
Enviado por Teônia Soares em 22/08/2018
Reeditado em 16/12/2020
Código do texto: T6426601
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.