Narrativas do absurdo
Não às vezes, mas quase que absolutamente sempre (exceto nos momentos de sono REM), Suellen carrega consigo o horóscopo do dia em seu bolso, na forma de aplicativo para o sistema Android. A Apple lhe custaria alguma quantia extra, entretanto seu signo disse que seu comportamento corrobora à prerrogativa do desapego.
Intuição compreende seu estado de ser, conforme o horóscopo digital lhe atribuiu como característica semana passada. Suas amigas sempre disseram o mesmo, embora elas não sejam espécies de machine learning pautadas pelo sistema criticista Kantiano. Intuitivamente ela crê que a intuição à levara a ter o horóscopo como seu bem mais precioso, apesar do seu signo defini-la como a expressão do desapego. Suellen até terminou um relacionamento alegando que estava se sentindo pressionada e que não gostaria de se apegar porque seu signo lhe dissera. O sujeito havia a conhecido cerca de quatro horas atrás num bar na Praça Roosevelt.
Suellen é uma pessoa de alta carga cultural. Adora ler textos extensos que se aglomeram no universo dos memes e stories do Intagram.
Aliás, Suellen tem essa intrínseca relação com o Instagram, e seus efêmeros stories definem absolutamente a forma e o meio como sua bagagem intelectual se relaciona com os objetos (ou menos objetivamente, experiências).
Suellen se enche de orgulho para se autorrotular INTUITIVA. "sou uma pessoa muito INTUITIVA", com toda a ênfase como ela gosta de fazer entre áudios e sobretudo publicações em 100 caracteres.
A intuição se verifica na medida em que o objeto afeta, se relaciona, transforma o espírito de certa maneira profunda. A forma e o meio como o conhecimento se relaciona com as experiências.
Se a lógica do absurdo dialoga com narrativas de construções sociais, invariavelmente Suellen apresenta seu espírito repleto de vitrines ontológicas de si mesma. Seu pescoço se inclina para a experiência sensorial fast food. Suellen acredita em seu horóscopo e nos memes.
Sua intuição se verifica quando as janelas de seu celular a afetam, se relacionam e transformam seu espírito de certa maneira profunda. A lógica desta construção social definitivamente explica não os diálogos, mas as narrativas do absurdo.