Não sei que título dar à um texto sobre esse assunto

Você tenta se conformar. Você tenta dizer para si mesma que vai ser assim de agora em diante. Você acha que vai se acostumar com a ausência. Você tem um dia bom, no qual a dor fica bem quietinha, quase não aparecendo, e vc acredita que pode ter dias como esse, dias em que você sabe que não vai ser feliz de novo, mas que não vai ser infeliz para sempre. Você se enche de açúcar, para aumentar a serotonina e tentar ficar de boa, mesmo sabendo que isso faz mal e que ele jamais concordaria com isso. Você lembra que tem amigos e uma rede de apoio muito grande. Você lembra que ainda tem família. Você repete o dia inteiro que está melhorando, mas sabe muito bem que é uma mentira e das grandes. Você tenta se convencer de que não foi uma injustiça da vida. E assim você segue, porém, essa fachada dura dois no dias no máximo. Porque aí a realidade te atinge e é como um soco. E então você começa a lembrar de todos aqueles momentos maravilhosos que não vai ter nunca mais, da voz que nunca mais vai ouvir, dos conselhos que não vai ter, dos medos que vai ter que enfrentar, lembra da presença que nunca mais vai sentir. Nem do abraço. Da pirraça. Você tenta não morrer de dor quando pensa nas coisas que nunca mais vão fazer. Do frango que só ele podia fazer. Do neto que ele vai conhecer. Você tenta fechar os olhos e dormir, mas só a dor te invade, e ela, ela invade e permanece. Ela te mantém na cama pois sem ele você não tem forças para levantar, não tem vontade de viver. O seu desejo é de cair num abismo, porque emocionalmente tem semanas que você caí num abismo. Você tenta todos os dias aprender a lidar com isso e não consegue. Você não entende a morte, não sabe lidar com ela e não quer lidar. Pois quando arrancam alguém que você ama, alguém que era a sua vida e seu mentor, você não quer saber. Você, assim como ele, também quer estar morto, já que por dentro você está.

Tamyrys Hadassa
Enviado por Tamyrys Hadassa em 17/08/2018
Código do texto: T6421446
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