amor e prudência..sabedoria do alto.
Sede
prudentes, filósofos e amigos do sofrimento e guardai-vos do
martírio oriundo do “amor à verdade”! Guardai-vos inclusive
de defendê-los. Isto prejudica a inocência e a delicada
imparcialidade de vossa consciência, pois a luta contra o
perigo, a injúria, a suspeita, o ostracismo e as conseqüências
mais brutais do ódio, os impeliram a desempenhar o papel de
defensores da verdade nesta terra. Como se a verdade fosse tão
ingênua ou tão torpe que tivesse necessidade de defensores! E
defensores como vós, cavaleiros da Triste Figura, rufiões do
espírito que teceis teias de aranha! Em resumo, sabeis que
pouco importa que a última palavra seja dita por vós, que
inclusive jamais filósofo algum pronunciou a última palavra e
que ofereceríeis uma prova de uma veracidade mais digna de
louvor ao colocar alguns pontos de interrogação atrás de vossas
fórmulas favoritas e de vossas teorias preferidas (e mesmo atrás
de vossa pessoa se a ocasião se apresentar). É preferível que
vos afasteis, que vos refugieis em algum retiro! Colocai vossos
disfarces, fazei uso da astúcia para serdes confundidos com
outros ou ainda para que aprendam a temer-vos um pouco! Não
esqueçais o jardim, eu vos rogo, o jardim com suas cancelas
douradas. E cercai-vos de pessoas que sejam como um jardim
ou o reflexo do sol na água, pois quando cai a tarde, o dia não é
mais que lembrança. Escolhei a boa solidão, a solidão livre, a
que vos permite seguir sendo bons em qualquer sentido. Quanta
perfídia, astúcia e maldade adquirimos depois de uma grande
guerra que não se pode fazer abertamente! Quão receosos nos
tornamos com o temor prolongado, a angustiosa espera com os
olhos fixos no inimigo, em todos os inimigos possíveis!