A sabedoria dos pais, os de antigamente
Sou de uma geração anterior que nunca teve facilidades, cujos os pais enfrentaram fome na infância e acreditaram estar fazendo muito (e fizeram) poupando os filhos das privações que lhe eram rotineiras quando filhos.
Nunca nos deixaram mandar ou pensar que fôssemos donos de seu tempo, de sua casa, de sua vontade e de seu dinheiro. Não moldaram um mundo perfeito a nossa volta, pelo contrário, pensaram que isto nos iludiriam e nos deixariam fracos para enfrentar o mundo lá fora.
Não sentiam culpa por não nos mimar, pois sabiam que estavam fazendo o máximo garantindo a nossa sobrevivência e nos isentando de preocupações com o pão de cada dia, mas nunca nos iludindo quanto ao custo para ganha-lo e do respeito que merecia quem o ganhava com o próprio suor.
Eles foram incríveis, verdadeiros mestres que com menos instrução e informação que nós não vacilaram na forma como nos prepararam para o mundo.
Quando se vê o mundo como um lugar pouco disposto a se conformar às suas vontades, caprichos e desejos, é preciso lutar por ele. Ele não se adequa ao que achamos que ele deva ser, ele pouco se importa se você o entende ou não. Há sempre um outro para ser colocado em seu lugar ou outro que entendeu o que você não entendeu, que viu sentido ao que você não viu sentido.
Assim ocorre no amadurecimento. Tal verdade pode ser pouco a pouco revelada ou sermos bruscamente tomado por ela. No geral começamos sem acreditar muito, é uma impressão que esquecemos facilmente com distrações diversas (e existem muitas com este propósito).
Mas a medida em que crescemos esta verdade vai ficando mais evidente, difícil de ser negada. As diversões costumeiras que nos distraem dos incômodos se tornam insuficientes.
É o momento em que nos abrimos para o entendimento, para a busca de um sentido que pode não ser facilmente revelado. Ninguém vem mais te dar este sentido, é preciso que você o produza e construa.
Não pude esperar que viessem me explicar ou que viessem me revelar o sentido. Precisei eu mesmo forja-lo e encarar os desafios com aquilo que eu tinha.
Este mundo que não parou para que eu pudesse subir me exigia constante pensamento, atualização e crítica.
Tantas vezes achei que estava certo e o mundo me mostrava o contrário. Não pude impor minhas verdades ao mundo e antes vi este mundo destruir muitas de minhas verdades.
O que me tornei com tudo isto? Não imponho nada ao mundo. Sei como ele muda, sei como destrói verdades e reafirma maus presságios. A única coisa que não cedi ao mundo foi meu ceticismo diante das coisas fáceis.
O mundo que me pede para acreditar em verdades definitivas. Em belos contos de fada, que me pede para achar que posso estar definitivamente certo sobre o que ele é ou deveria ser.
Sei como ele se transforma, como desconsidera qualquer pretensão de dominá-lo e de conhecer seus segredos definitivos. Sei como toda certeza pode ser provisória, como todo caminho traçado pode ser subitamente alterado.
No final das contas, subtraindo todas as tolas filosofias, lições belas e impraticáveis, todas as justificativas ornamentais, nos resta o mais importante que é sobreviver da melhor forma possível. Uma verdade feia oculta por mentiras confortáveis.
Estes pais nos ensinaram o fundamental, cuja a beleza somente a experiência poderia nos revelar com gratidão e admiração tardia dada a enorme ignorância com a qual nos deparamos com o mundo e a urgência de se aprender não só o que se quer mas o que é preciso para viver.
Temos uma geração que nos pede mais leveza, que nos pede que os poupe do mundo o mais cedo que pudermos. Querem que mantemos de pé um mundo de brinquedo, um simulacro simplório da verdadeira vida no que ela tem de força, de dores, de energia, de destruição, de vitórias, de derrotas, de prazeres e desconfianças...
Os verdadeiros mestres sorriem cansados diante da tolice dos filhos agora pais. O mundo mudou, dizem a eles os mais novos. E o mundo diz aos mais novos no seu próprio tempo e a sua maneira que ele continua o mesmo em essência: a luta pela vida, com todas as suas belezas e feiuras, onde não somos nada mais que pequenos grãos em um universo gigantesco.