MAMONAS ASSASSINAS

05 de agosto de 2018

16:34

Estávamos jogando futebol numa casa em Itaparica. Éramos eu, Rodrigo, Felipe, talvez o Gustavo, e mais uns dois que não me lembro... tínhamos 11 anos de idade. Eu só me lembro de Rodrigo vindo, andando devagar, como se tivesse visto um fantasma. Ele disse: "Os Mamonas Assassinas morreram.". E aí todo mundo riu, porque pensou que ele estivesse brincando, pelo menos por alguns segundos. Então ele completou, ainda sério (ele não era de falar sério... ninguém era, naquela época...): "é sério velho... o avião deles caiu... o avião caiu. Eles morreram.".

A gente continuou jogando bola, mesmo com uma coisa terrível zumbindo e arranhando nosso peito. Assim como todos os jovens e crianças do Brasil inteiro continuaram seguindo com suas vidas. Mas nós não estávamos acostumados a gostar tanto de alguém, e de uma hora pra outra este alguém desaparecer de uma forma tão brutal. E em seguida a televisão fez aquele AUÊ que ela sempre faz... e nos anos 90 a televisão era tudo o que tínhamos. Não ousávamos questioná-la.

Eu me lembro bem de ficar sentado, junto com meu irmão, assistindo o enterro... e me lembro de uma versão instrumental e muito triste que fizeram da música "Pelados em Santos", que ficava se repetindo durante todo o cortejo, que foi televisionado por inteiro e que durou muito mais do que meu coração e minha atenção suportava.

No final das contas, mesmo com o meu coração apertado, e sem compreender realmente o porquê de estar tão triste, por causa de pessoas que - de fato - eu nem conhecia, eu resolvi sair andando de bicicleta pelas ruas de guarajuba. Que estavam vazias... eu andava, e andava, e andava... até finalmente parar num banco frente ao mar. Eu sempre fazia isso. Mas dessa vez estava sendo esquisito e diferente... o mar parecia estar querendo me dizer alguma coisa...

H.B