A ARTE DE DECIFRAR
A arte de decifrar confunde-se com a experiência da interpretação. Assim, combina cumplicidade e imparcialidade na produção do sentido de um texto ou de uma realidade. Mas não se trata de um exercício de dedução no melhor ou pior uso do aparato caduco da tradição do pensamento. Trata-se de comprometimento, de pensar onde não somos, de adentrar labirintos. A compreensão de qualquer coisa é sempre interpretação e, portanto, pressupõe algo de falsificação, de reinvenção. Não é a verdade das coisas que alcançamos, mas sua simulação. Não é o sujeito fundante do Ser como pensamento que nos substitui no ato de decifrar. O enigma inventa a si mesmo e já contem sua própria resposta. Desta forma, o sentido possui sua soberania. Mas não remete a um significante ou a um significado, mas a um revelar-se como exterioridade interiorizada, como um fora que se torna dentro. Decifrar é movimento, é um estado e não um ato. Ele é o exercício de uma mobilidade labiríntica.