O DIA DA NÃO-MUDANÇA
O papel me encara, como se exigisse algo de mim. Como se minha obrigação fosse preencher a folha com uma azul determinado, com letras confiantes e prontas para atravessar a carne pura, vermelha, pulsante.
Não é fácil perceber, que pouco escrevo sobre mim. Pouco falo das metas insuperáveis, dos picos inalcançáveis, dos desejos. Sou um escravo do papel, sou caneta sem nome, sem rumo, sem rosto. O punho não guia, obedece. Submisso, tentando desenhar o ideal, a mera vontade de uma feição, de um sorriso.
E foi assim que o dia começou, em mais uma terça-feira que me odeia.