Desilusão

De vez em sempre desejava ter alguém, a quem pudesse chamar de alma gémea, garantidamente.

Uma pessoa, ainda que desprovida das mesmas manias que eu, que me soubesse aturar, a mim e aos distúrbios mentais.

Que me seguisse aonde eu não quisesse ir e me acompanhasse até onde não devesse, alguém que não me chamasse de louco e que não me amasse tão pouco.

Só que este "sempre" não se perpetuou, aprendi que não se pode esperar muito das pessoas e que é possivel ser-se feliz com a própria sombra.

Mas estava enganado. Aprendi errado, pois as pessoas nos surpreendem e há coisas que só nos chegam quando deixamos direccionar nossa inteira preocupação a elas.

Foi preciso largar a ilusão de que é possível ser completo sozinho. Não, somos apenas uma parte de nós mesmos tentando preencher a que falta, porque chega uma altura que devemos deixar de falhar e, sem outra opção, somos obrigados a viver.

E viver tem que ver com aceitar que entre alguém especial no nosso buraco além das amizades longínquas e os membros de família. Nada é fácil, e nem tudo é engraçado, há problemas, há a grande vontade de continuar a solo e não ter que pensar em problemas alheios, mas a nossa existência não consegue fugir desse gráfico.

Principalmente quando somos loucos demais, mal-humorados e agoniados, não conseguimos cuidar de nós mesmos por mais que prefiramos o isolamento.

Chega uma altura que alguém tem de nos impedir de nos matarmos e essa pessoa não precisa ser a certa nem a perfeita. Somos todos errados andando à procura de consertos e coagidos a engolir a imperfeição.

Entretanto, quando você conhece quem está consigo, estar sozinho é desnecessário.

Widralino
Enviado por Widralino em 24/07/2018
Código do texto: T6399026
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