Pele de pipoca, o Bem e a fênix.

Eu estou com algumas coisas entaladas na minha garganta. Coisas como aquelas peles de milho estourado que grudam na laringe e te fazem ter pigarros por horas até milagrosamente serem levadas para algum lugar onde não serão digeridas.

Ultimamente eu tenho procurado mudar meu círculo social. A minha rede de informações já não é o suficiente para a nova atualização sistêmica. E, nessa história de conhecer gente nova, eu tenho me encontrado em um combinado de pessoas iguais (eu repito: iguais) em oitenta por cento das características, mas cem por cento diferentes do meu usual.

As principais envolvem a incrível habilidade de tocar instrumentos, cantar os mais diversos tons e conterem um repertório de experiências esnobes e humildes. Elas possuem estilos únicos e cômicos de certa forma. Por coincidência, eu não escolhi a dedo, o destino só às trouxe pra mim. Dizem que somos uma mistura daqueles com quem andamos, e é no meio desse apanhado de novas identidades se fundindo à minha que eu me encontro cercada de peles na garganta.

Recentemente peguei-me passando por uma situação repetida a uma do começo de 2015. Eu namorava um rapaz que me parecia tão sábio, tão completo, que minha existência perdia o sentido. Eu não conversava, não me abria, mal me fazia presente e mesmo assim eu o sufocava. Durou um mês, foi duro, eu sofri calada, mas pelo menos tive “uma Musa” para os meus textos e desenhos. Hoje ele é meu melhor amigo e ninguém tira esse posto dele.

Ele me fez evoluir muito ao longo dos últimos três anos sendo a minha Musa. Com ele, consegui chegar em pontos altos e descobertas esplêndidas só porque o usava como receptor de textos autor reflexivos que ele nunca leu. Da pra entender que eu o usei sem o usar? É um start para a ascensão.

Enfim, o tempo foi passando, eu fui me perdendo e perdendo a Musa que me evoluía. Chegou um momento em que nada condizia com nada e eu perdi a habilidade de autodescoberta. E fiquei assim, num hiato, vivendo e levando tapa na cara pra aprender.

Hoje essa situação se repete. Mas só a parte boa. Hoje eu tenho a chance de começar tudo com outros olhos e uma chance incrível de evolução. Como o universo age de forma misteriosa aos olhos humanos, a pessoa mais improvável, mais complicada e aleatória que tinha no meio desse novo círculo social que arrumei, começou a se relacionar comigo. Obviamente não foi de propósito, mas está sendo uma loucura. É como se todas as minhas experiências amorosas, sociais e profissionais viessem ser testadas de uma vez só, em uma só pessoa. Vamos chamar essa pessoa de Bem.

É como se eu simplesmente tivesse batido o olho no Bem e falado “esse ai vai me dar trabalho, quero”. O Bem é peculiar, difícil, enjoado, cheio de não me toques, incrustado de coisas terapêuticas, muita ardilosidade, criatividade, experiências, inocência, brutalidade, insensibilidade, paixão, infantilidade, tesão, molecagem e tantas outras coisa que não vão caber aqui. Basicamente ele é um ponto fora da curva de normalidade. Uma mistura de tudo que um dia eu já experienciei.

Ele é uma pele que engasga na garganta e te faz querer a todo custo tirar aquilo dali. Digo que me engasga não num sentido ruim (pausa para muitos risos), mas que me causa um êxtase. Eu realmente tenho um trabalho árduo e eu nunca tinha tido a chance de lidar com tudo de uma só vez. É um agente de mudança e Deus me perdoe, mas eu estou amando.

Não amando no sentido literal, mas adorando conhecer e me perder nas histórias trágicas e cheias de lições de vida que ele me conta. Amando ter alguém tão sincero, e isso realmente é importante, por mais que os outros tentem, não conseguem ser tão brutos como esse Bem. A sinceridade do Bem me dá cada tapa na cara, que se fosse qualquer outra pessoa, eu teria literalmente distribuído bofetadas. Atenção para a constatação do parágrafo: Eu acho que encontrei uma nova Musa.

Dia desses o Bem disse que só não se interessa mais por mim porque eu não mostro como sou, no sentido de não contar a minha história, não o deixar me conhecer. E isso me deixou seriamente encucada. Foi aí que o texto começou a ser formulado na minha cabeça. Então preciso trabalhar nisso. Quando tenho a minha Musa, me sinto poderosa. Como se uma força maior se fizesse presente e me colocasse no controle de toda a minha vida. A figura da Musa é só um gatilho pra minha ascensão pessoal.

Por mais ausente, escroto ou o que quer que o Bem seja, ele se tornou a pessoa perfeita para o posto. Ele simplesmente não precisa mover um dedo pra me mostrar quem eu sou. Todas as constatações que eu fiz aqui foram feitas em momentos aleatórios. O Bem é aleatório. Ele é a pele que não digere, mas que me faz testar mil e uma coisas para tirar ela dali em vez de só esperar e esperar.

Ele não precisa nem se preocupar em ter alguma responsabilidade. Eu posso ser só mais um dos objetos que ele usa no dia a dia, se é que me entende. E isso me deixa sim frustrada por um segundo, porque, querendo ou não, eu não sou uma pessoa de relações efêmeras. Mas o fato de levar isso como um desafio, que está me tirando daquele buraco. Tudo só é como é porque preciso ser eu mesma e não aquela que os outros querem que eu seja.

A maioria das minhas tentativas amorosas recentes vieram acompanhadas de parceiros presos a antigos moldes de ex-amantes. Amantes essas tão importantes que travaram o cérebro de todos os coitados, prendendo-os ao querer do mesmo, estagnados na não evolução. Isso me fez querer tapar o buraco em cada um em vez de reconstruir suas vidas. E isso é mais uma prova de que as respostas estão sempre na minha frente e eu não estou sendo atenta o suficiente.

Não sou mais uma pessoa com medo das responsabilidades, não posso me dar ao luxo de fugir. Vejamos bem, de que adianta procurar o mesmo tipo de situação, sendo que somos pessoas únicas e mutáveis? Não faz sentido eu me manter reclusa. Não adianta reclamar de efemeridade se eu estou sendo completamente efêmera. Eu preciso me abrir, me reconhecer, me deixar ser conhecida da forma certa.

Hoje eu estou na situação de ouvinte, somos um monólogo ambulante e desenfreado. Mas eu estou completamente disposta a mudar essa visão, não só para comigo, mas para que as próximas experiências sejam concretas. Hoje mesmo eu resolvi um punhado de coisas pequenas que pra mim já foram o mundo sobre minhas costas.

Um amigo que julguei ter perdido, nos falamos há 5 minutos e ele me convidou para ser madrinha do seu casamento. Meu pai, que não falava comigo direito há muito tempo, me pediu desculpas e nos acertamos definitivamente. Tenho um novo artigo em finalização e sou madrinha da neném de uma amiga incrível também. E tudo isso conquistei com a influência de frases que o Bem ou outro me disseram, me motivaram.

Frases essas que me deixaram dias pensando e remodelando a minha vida. O Bem disse que não existe tempo, a gente muda na hora que quiser, e isso foi a coisa mais perfeita que ele poderia ter me dito. Eu consegui em um mês mudar coisas que tento enfrentar há anos. Eu só precisei parar para refletir e agir, e ele me deu esse tino.

Eu quero ter as minhas próprias experiências e somente isso. Posso não ser a mesma pessoa, mas posso aprender com meu antigo eu a ser uma nova mulher. É uma aventura que eu não quero abrir mão. Hoje eu estou usando meu novo círculo como chave para a minha evolução. E o Bem é uma parte fundamental. Tanto perdendo-o como ganhando-o, ele já fez a mudança começar a acontecer na minha vida.

Creio que agora cada um desse novo círculo vá me dar um pouquinho de senso de direção. E nesse meio tempo eu vou me moldar de acordo com minhas expectativas, realidades, objetivos e experiências. Assim quem sabe eu não renasça das cinzas como já fiz tantas e tantas vezes, e aquela pelinha de pipoca seja só uma parte engraçada do dia. A partir de hoje eu serei Eu e mais ninguém.

Tamara Falcomer
Enviado por Tamara Falcomer em 23/07/2018
Reeditado em 23/07/2018
Código do texto: T6397917
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