O pintor de paredes

Um dia, há várias décadas o amanuense

pensava em ser pintor. Não, não é de parede não;

até porque de parede já o era e naquela espera de pintar

tela, também meditava naquilo que acreditava. Em sua falta

de modéstia meditava em Rafael, Da Vinci, Van Gogh, enfim como

deve ser um poeta sonhador. Numa confortável tarde, num profun-

do relaxamento, após já haver pintado mil telas, ouviu uma meiga

voz: Escreva meu filho, essa é a sua missão, o pintor retrucou,

mas; meu Senhor, “ um quadro fala por mil palavras”, ouviu-

se a tréplica, levanta-te daí vagaroso ser, pois, acabo de

me compadecer de ignóbil ser sem querer me abor-

recer, quando um quadro fala por mil palavras

não se lavra para qualquer ser, esse ser há

de ser quase iluminado, como esse aí ao teu

lado. Ao meu lado? Pensou que fosse o seu cunhado

o qual passava todo empertigado, o cara era meio enjoado.

Ah… Qual era o assunto mesmo? Ah… Sim sobre o cara que

queria pintar e bordar o sete. Porém, o pintor era teimoso e

manhoso, passando a mão num cinzel foi quebrar pedras

para disfarçar a insensatez da sua morbidez como se bu-

rilasse os céus, porém, naquela virtual besteira, sobre uma

esteira ao esculpir tanta poeira não a resistiu. Mas aquela ben-

dita poeira o fez desistir ao invés, êpa, ou em vez de resistir?

Ah… Só por essa vez, ou por esta vez, agora sou escritor, faça-

me o favor, que se lasque o português, ele que fique lá na sua

padaria todos os dias com seu freguês, somente desta vez.

com o circunflexo e tudo, seu português barrigudo. A medi-

tação foi a sua salvação, foi de lá que veio a

amorável imposição. A musa o tomou pela

mão e o fez escrever ao lado duma tela para sair

daquela megera rejeição e partir para uma nova

era qual não era a sua menor intenção, ou era?

Lembrou-se do seu quadro chamado: Pantera

Negra, enquanto em sua testa formava uma nesga,

quando o pintor acordou, acordou que uma no-

va era chegou, então pintor-poeta pensou, a-

gora vou escrever poesias, tentando sair da

pintura, qual tortura o fez escritor estético

com teclado cheio de pinceladas enxoval-

hando o monitor de uma dessas máquinas

modernas com tinta azul claro, como di-

ria Pablo Neruda a um Carteiro qualquer

em seu poema raro na intenção de que

dali saísse um salvador Dali

esperando Gala e Pablo Picasso

dentro de tempestuosa Guernica violenta.

Ah… o pintor já estava esquecendo de Victor

Brecheret empurrando uma manada numa praça

da São Paulo da Garoa um “Monumento às Ban-

deiras”. Daí pra frente passou a escrever até que

perdeu o senso tornando-se dependente do vício.

Até o velho negro felino do poeta ficou boquiaberto,

já, meio digitalizado com qualquer editor apropriado.

Aí, meio contrariado o poeta resmungou: Que se dane

a orelha de Van Gogh e foi escrever todos os dias suas

poesias!

Pode?

O vício da arte é um problema muito sério!

MUNDO MÁGICO DAS ARTES.

jbcampos
Enviado por jbcampos em 05/07/2018
Reeditado em 05/07/2018
Código do texto: T6382423
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