Curitiba, 23 de maio de 2018.

"Tenho que fazer uma limpa no guarda-roupa."
Se você tivesse noção de quantas vezes já prometi isso a mim mesma e em raríssimas vezes tive a decência de cumprir, não se surpreenderia em constatar que minha alma também é uma bagunça só.
Não parece a princípio, mas me acostumei a usar sempre o mesmo casaco, a mesma calça, pegar a primeira blusa que está à minha frente, calçar o tênis e torcer para não trombar com nenhum conhecido que já venha me sabatinar com perguntas que não estou nem um pouco a fim de responder. Porque não lhes interessa e também porque não é o foco desses pensamentos tão embaralhados quanto àquelas peças emboladas num espaço que deveria primar por organização.
Li recentemente num livro que o universo é sensível a pequenos gestos e, dentre eles, acredite, arrumar o guarda-roupa, separar os itens que não são utilizados (e nunca serão, aposta certa) e passá-los adiante, organizar as peças essenciais e com isso também fazer uma faxina mental porque tantos sentimentos que me fazem mal ainda estão ali guardadinhos como todas aquelas roupas amassadas.
Dobrar roupas parece uma tarefa monótona, mas pense no quanto é recompensador abrir as portas do seu guarda-roupa e encontrar todas as peças organizadas, descobrir que peças que não te servem mais podem fazer alguém mais feliz, que você pode fazer ótimas combinações com aquilo que tem e, desse modo, evitar gastar desnecessariamente porque muitas vezes o impulso nos leva a adquirir coisas de que não precisamos ou que não fazem nosso estilo só porque o preço parecia "bom"...
Passar um tempo com nós mesmos nunca será tempo perdido. Arrumar o guarda-roupa pode ser uma boa ideia quando você estiver aí vendo coisas que te machucam nas redes sociais. Desligar-se um pouco dessa tecnologia nem sempre positiva.
"Hoje vou arrumar o guarda-roupa. Hoje!"
Deitada na cama, ainda grogue de sono, repasso mentalmente todas as tarefas que gostaria de executar, mas para uma pessoa que está caminhando por aquele vale mais sinuoso da depressão, sair da cama já é uma vitória digna de ser celebrada, imagina só abrir as portas do guarda-roupa e aproveitar para fazer uma faxina que embora não soe tão revolucionária assim, sem dúvida traz aquela sensação gostosa de que esse caminho vai me levar a algum lugar, aonde deverei estar muito em breve e que aquilo que não me serve mais e que não irei vestir poderá aquecer o frio de alguém ou mesmo ser de grande serventia para outro, sem contar que aos poucos a própria mente vai analisar todos os dados do sistema e chegar à conclusão de que alguns sentimentos que atrasam o progresso devem ir embora junto com as roupas velhas.
Sabem que me deu uma vontade de xeretar o guarda-roupa agora?
Confesso que embora não seja nenhuma obcecada por limpeza, quando dou para limpar o quarto, encero o chão com vigor, deixo os vidros tão limpos que quase posso me refletir neles e quando todas as gavetas estão devidamente organizadas, tudo ao meu redor parece fluir bem melhor.
Em vez de lições de moral, recomendaria que todos de vez em quando arrumassem o guarda-roupa e partilhassem aquilo que não usam mais e aproveitassem esse momento em que o poder de decisão é tão importante para olharem um pouco para si mesmas, se permitirem esse momento de franqueza, de total entrega e sinceridade para que possam purificar a mente porque estando ela ocupada com o que é preciso fazer, os pensamentos negativos não têm vez.
Sei que alguém já deve ter escrito um texto repleto de referências muito mais interessantes, mas enquanto estudante na escola da vida, só escrevo aquilo que meu coração deseja, estou aprendendo e espero que essa sede por saber mais me torne também sensível às necessidades dos outros porque, confesso, espero encontrar no meio dessa rotina louca e imprevisível algum tempo para separar minhas peças de roupa e enquanto as organizo, fazer o mesmo com minha mente, meu coração.
Estou realmente precisando desse tempo.
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 29/06/2018
Código do texto: T6377465
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