ECOS DAS VIDAS PASSADAS...

Temos todos esses ecos do passado que,
por vezes,
veem do nada emergindo das catacumbas da memória assombrar o presente já atribulado sob o peso das suas dores.

Creio que,
devido à prática constante da meditação,
sem que eu quissesse ou pedisse,
começam a abrir em mim essas fossas de luz deixando que fragmentos da temível criatura que fui venham a ser o meu próprio carrasco.

E me vi como um gigante das selvas vikings que, capturado pelos algozes em uma ação de saque, tornou-se gladiador nas paragens da antiga Gália.
Verdadeiro monstro na arte de esmagar os outros lançaram-me à arena de punhos nus. E nos embates via-me, enorme e sujo, com as faces de uma fera escondida sob a máscara de homem, quebrando crânios e colunas como se fossem espetos de frágil origem.

Noutra época, ensinaram-me a lutar com a lança e a espada.
Exímio soldado, em um novo corpo, agora um tanto menor, mas ainda resistente e forte, vieram-me à mente todos os golpes de ataque e defesa com a lança.
- Lanceiros, em ordem!
E ouço esses brados como se fossem promessas feitas na infância.

Na última roupagem, talvez na Itália renascentista, vi-me em pesados trajes de um nobre desafiado duplamente em um duelo.
Era exímio no florete.
Sabia os movimentos, recordo-me da agilidade, dos golpes firmes, das defesas que valiam a vida e o pior me veio: senti a dor de penetrar um frágil corpo de carne com a frígida lâmina.
Queria despertar daquele pesadelo vivo.
Não me lembro do rosto que feri.
Não sei se também fui ferido e, 
em um átimo,
sai daquele ritmo de outrora para despertar no presente.

Agora sou das letras,
embora meus impulsos de outras eras tenham-me conduzido a tornar-me também um Educador Físico,
outros apelos,
emergindo do novo homem no seu velho espírito,
trouxeram-me a outras inclinações.

A escrita me salva,
embora ainda vibre em mim
o som daquele corte
rompendo a carne....