Eu tenho um defeito

Sou uma ótima pessoa. Cumpro meus deveres e chego no horário.

Mas, eu tenho um defeito.

Amo crianças. Sou capaz de passar dias a fio com elas, sem sequer me estressar.

Sou capaz de acalmar desde um recém-nascido, até um quase adolescente.

Ainda consigo ensiná-las com muita paciência e eficiência.

Desde o Be-A-Bá até à matemática.

Mas, eu tenho um defeito.

Gosto dos animais e sou a favor de quaisquer ONG’s que os proteja.

Mas, eu tenho um defeito.

Possuo um sentimento muito raro hoje em dia. Empatia.

Sou capaz de me solidarizar com outro humano.

Sou capaz de compreender as mais terríveis loucuras.

Procuro entender a história do indivíduo, perceber o que o levou àquilo.

Dificilmente julgo alguém por seus atos, ou sua aparência.

Sou humana, ao extremo.

Sou um tanto ingênua em relação às pessoas e, sempre acredito no lado melhor de cada um.

Mas, eu tenho um defeito.

Acredito em Deus. Mas, respeito toda e qualquer religião.

Adoro a diferença religiosa e a diversidade de povos.

Mas, eu tenho um defeito.

Sou extremamente generosa e riquezas materiais são incapazes de me prender.

Mas, eu tenho um defeito.

Nasci dia 20 de fevereiro e, portanto, possuo ao melhor e mais gentil signo do zodíaco (modéstia à parte).

Sou pisciana e, por pertencer ao 12º signo do zodíaco, possuo um pouco de cada um dos doze e, talvez essa miscigenação faça de mim tão compreensiva, cautelosa e empática.

Mas, eu tenho um defeito.

Meu defeito deveria ser uma qualidade. Na verdade há uma linha tênue que separa a virtude da falha.

Meu defeito é responsável por permear todos os meus atributos, mas quando sozinho, é amargo demais para se sentir.

Meu defeito se chama Amar demais.

Amo quem não merece.

Amo que não me nota.

Amo quem finge gostar.

Amo quem finge se importar.

Amo quem me permite vislumbrar uma fresta de felicidade.

Aí, amo. Entrego-me. Renuncio-me.

E então, me vejo só.

Tal como comecei.

Tal como nasci.

Meu defeito e dar demais a quem não sabe receber.

Amar demais a quem não sabe se importar e,

Sempre. Uma, duas, três, mil vezes. Perdoar.

Acreditar na metamorfose.

Acreditar na mudança impossível.

E, basta uma palavra, para que eu perdoe.

E volte.

E dê mais uma chance.

E acredite que a culpa foi minha.

E se inicia novamente, um círculo vicioso, onde me exponho,

Onde me permito esperançar

E amar.

Para mais uma vez, receber o silêncio como retribuição de minha entrega.

Mas, o silêncio também é resposta.

Ele faz o favor de ecoar e reverberar na alma

Mostrando-me que antes de amar o outro,

Eu preciso me amar

E, me amo.

Mas, o amor que possuo em mim é tanto, que necessito compartilhá-lo e entrega-lo a alguém, por medo de sufocar-me nele mesmo.

Vou guardar este defeito comigo.

E, quem sabe um dia, chega alguém que compartilhe tamanha falha, com o mesmo carinho.

Kelly Priscila

19/06/2018

Café e Leitura
Enviado por Café e Leitura em 19/06/2018
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