Saber ouvir é sinal de Inteligência

Primeiro, por que implica em aceitarmos outros pontos de vista diferentes do nosso. Para aceitarmos que outras formas de pensar são possíveis é preciso conhecer os fundamentos do próprio pensamento.

O dogmático não sabe que sua forma de pensar se baseia em pressupostos que podem ser questionados e alterados. Aquele que fundamenta na razão o que pensa sabe que precisa dar conta das contradições e fatos novos que são apresentados. O dogmático tapa seus ouvidos evitando outros pontos de vista - que de antemão já condena como ignorância.

Segundo, é preciso aceitar que por mais que a criatura pensante mais familiar a você é você mesmo, há outras pessoas que pensam e tem ideias. As melhores ideias do mundo, as sacadas mais geniais não se limitam àqueles que vão ao encontro de seus interesses.

As ideias e pensamentos produzidos no mundo não se limitam àquelas que porventura possam concordar com seus pensamentos e interesses.

Terceiro, as pessoas não são receptáculos passivos ou relutantes às suas verdades. Elas também tem o que dizer, tem suas ideias próprias que não são obrigadas a se ajustar ao que você pensar ser ou não o correto.

Quarto, você não descobriu para onde o mundo caminha. Você não descobriu a verdadeira forma de pensar. Seu pensamento é uma das possíveis formas de se entender algo. O mundo não se limita ao que você pensa, se sentir certo ou ter acertado inúmeras vezes não garante que você esgotou todas as possibilidades do mundo, mas talvez as suas.

Quinto, não há uma verdade sem que esta seja compartilhável. Não há verdades que não possam ser expressas. Expressar implica se comunicar e se fazer entender. Implica também em mudar e ajustar o que diz de forma a se fazer compreensível. A verdade que não pode ser comunicada não pode ser testada.

Sexto, saber ouvir é necessário. A realidade admite múltiplas perspectivas, sua diversidade é inesgotável mesmo pelas melhores teorias científicas. Da nossa incapacidade de compreender todo este universo, precisamos de outras pessoas para vermos de outras formas para irmos além de nossa incapacidade de ver o todo.

Ao ouvir outras pessoas, outros lados, outras formas nos são apresentadas. Ampliamos nossa visão do mundo ao somarmos a nossa outras perspectivas. E digo mais, experimentamos a importante ideia de que o saber não é um resultado é um processo que nos exige constante questionamento e reelaboração do que achamos ser a verdade.

Somente quem se convenceu de ter encontrado a verdade exclusiva e definitiva do mundo pode se dar ao luxo de não querer ouvir os demais e se colocar como guia e voz da humanidade imperfeita.

Ouvimos ou esperamos nossa vez de falar? Estamos ouvindo ou buscando uma forma de encaixar no que outro diz nossa certeza e maneira de pensar? Buscamos conversar para aprender com o outro ou para ensinar o outro? Você ouve com o intuito de que outro confirme o que você diz ou ouve para ampliar o que você já sabe?

Do ouvir podemos conhecer o inusitado, o conselho valioso e precaução que nos faltaria caso contássemos só com nossas verdades - a maioria das vezes limitadas ou falhas.

Eu estou certo e outro errado? Ou estou me recusando a entender de outra forma uma situação ou problema?

Quem chamaria de inteligente? Aquele que insiste em um único caminho pouco proveitoso e sem resultados ou o que pergunta, estuda, pesquisa e testa até encontrar uma forma mais interessante de se resolver um problema?

Aquele que castiga o mundo, culpa as pessoas, condena o que é diverso do seu como ignorância ou burrice, por não concordar com suas verdades? Ou aquele que busca a verdade por meio do diálogo com a diversidade e possibilidades abertas pelos indivíduos do presente e do passado?

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 19/06/2018
Reeditado em 19/06/2018
Código do texto: T6368332
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