Bungee Jump

Eu cresci na metade de dois tempos.

Em um eu era livre, uma florzinha desabrochando e sendo levada à vida adulta de uma forma rápida e curta. No outro eu sou uma mulher que gosta de riscar fósforos e fazer a barraca pegar fogo de uma forma lenta. Esse texto é e não é sobre a minha vida, nele vou falar de amor para descrever o quão insatisfeita eu sou com o tempo.

O tempo criou uma geração de pessoas com medo de se entregar, mas que são loucas para cair nos braços de um amado como nos filminhos de sessão da tarde. O tempo criou pessoas com o bordão “Deus me livre, mas quem me dera” inclusive eu falo muito ele no dia a dia, pra se ver só. Pessoas que criaram tanta dificuldade para coisas simples que mesmo que você se dê conta da estupidez, é impossível mudar. Eu tentei mais de uma vez, mas então eu começo a falar “ah vai enjoar de mim” e isso é o que acontece. O Tempo nos fez pessoas desistentes.

Palavras tem poder? Não sei mas eu sei que quando eu falo convicta, é bem provável que eu faça acontecer. Isso me lembra quando uma das pessoas mais importantes pra mim, me disse: “para de falar ‘eu queria’

e comece a falar ‘eu quero’, muda sua mentalidade para com a realidade e seus projetos que você vai ver como é incrível o jeito que essas coisas funcionam”. E foi isso que eu fiz.

É como aqueles pensamentos positivos que você fica enfiando guela abaixo pra si e no fim de uma semana você já é todo positivo sem nem se dar conta. Tudo começa com um pouco de dever e acaba se tornando um prazer. Foi a partir desse conselho que eu comecei a mudar a minha vida e ta difícil pra caralho.

Afinal, quem é que quer se envolver com alguém em um piscar de olhos? Eu quero! Mas estou presa num modelo atual de “faça por merecer” onde qualquer passo fora dessa linha me diz que tudo vai por

água abaixo. Pura adrenalina, pura sorte. É um frenesi enorme saber que eu posso me jogar de cabeça, ser intensamente intensa mas deixar a outra pessoa decidir se vai ou racha.

Eu faço a minha parte e torço pra ter jogado tudo em alguém tão louco que ame a intensidade, suporte à loucura e me ajude a entender como é viver nessa Era do instantâneo. Eu estou me fazendo ir contra a correnteza dos tempos impacientes.

É como se relacionamentos não fossem mais construídos. Eles brotam e são só fogo de palha, nada dura, eu não quero isso mais. Eu demorei tantos anos pra escrever porque eu não tinha motivo, mas essa semana eu me peguei tentando tudo de novo de uma forma completamente diferente.

Eu estou à vontade para construir, à vontade pra conversar, à vontade para rir e ser idiota, moleca, pentelha. Apesar disso, eu acho que nunca falei nada sobre mim, então eu posso ser totalmente aberta,

além de coisa besta, coisa profunda, eu por inteiro. Isso é diferente porque a gente sempre chega em alguém sufocando de informações e contando a vida inteira, mas pela primeira vez eu estou conseguindo fazer isso aos poucos. Eu quero conhecê-lo e quero que ele me conheça.

Na maioria das vezes, é como um Bungee Jump, eu pulo, sinto tudo que há para sentir e quando satura o relacionamento a corda me puxa de volta e eu começo tudo de novo. Do zero sem ser do zero, já que eu sou completa de experiencias e conselhos.

Acho que na real ninguém nunca se sufocou em mim de uma vez. Ninguém nunca mergulhou de cabeça com essa intenção. Uma curiosidade é pensar em como cada pulo vem antecedido de medo, angústia, insegurança e bloqueios. Eu me desdobro, me esforço e vou ao meu limite para lutar contra o medo do abandono. Será que vai dar errado de novo? Será que nossa vida combina? Sexo? Costumes? Propósitos?

“E se eu só molhar meu rosto e desistir dessa ideia?" sempre penso mil vezes se vale a pena, mas cá estamos nós de novo em outra tentativa já

aprovada pela burocracia mental e catártica no meu cérebro. É só pular.

Então isso é um momento de espera, quem sabe eu pulo e fico por lá mesmo, sem ser puxada de volta. Eu já inclui o outro no meu dia a dia. Espero sim por mensagens, por pedidos de carinho, pra dar cuidado. Eu quero cuidar, eu gosto disso. É tudo tão novo, tão curioso, tão cuidadoso. São só elogios para tanta facilidade de compreender uma pesssoa.. Eu to completamente fascinada com a complexidade e simplicidade desse salto. Então agora só resta me perguntar:

Será esse um salto para a morte ou para a liberdade?

Tamara Falcomer
Enviado por Tamara Falcomer em 18/06/2018
Reeditado em 29/08/2018
Código do texto: T6367064
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