LADAINHA...

...e nesse momento, o da refeição, me posiciono no lugar de sempre, à cabeceira da mesa, que por acaso fica na mesma posição da sua na cozinha, como já descrevera em outra ocasião.

Mesmo com os atropelos do meu filho, o clima é de solidão...minha atenção está voltada para a posição da mesa e das cadeiras e a sensação é sempre a mesma, o dia, quase sempre, sexta-feira...

A taça só pra mim, sobre a mesa, tímida e sem cor, recebe o Travessia que há muito não recebia. Percebo os movimentos sutis, espírito de uma companhia

imaginária e querida do meu lado direito..reconheço o seu sorriso enquanto visualizo você!...

Estendo a mão direita, palma pra baixo, como sempre fazia!...Soluços discretos se manifestam em minha garganta e me esforço para evitar as lágrimas que deixaram pra cair agora!...

O vinho, não mais que dois centímetros na taça, perguntava de você ao questionar sobre a outra taça vazia colocada propositalmente

como se meus pensamentos fossem reais naquele momento!...Respondi que, apesar da vívida impressão da sua presença, você estava distante de corpo, alma e pensamento!...

Dispensaria qualquer prato ou tesouro que me fosse servido para ter você ao meu lado...quanta falta você me faz!...Quanta dor por não estarmos mais lado a lado nos olhando

O alimento nessa hora não desce como em outros tempos e nem tem o mesmo sabor ou significado se você não nos complementa. Minha mão sobre a mesa está deserta, distante do oásis que foram os seu carinhos...as manchas que a caracterizam, antes alegres, agora choram também a sua ausência...molhadas por serem prestativas, cada mancha representa uma lágrima...

Em que tempo eu vivi esse amor sem igual? Não sei se passado, futuro ou presente...

estou certo, porém, que foi um tempo em que eu morria de contente, mesclado, como num sonho onde vivi uma vida inteira sem que tenha passado cinco minutos...

agora esta frio aqui e os seus abraços estão aí sem ninguém... vazios de mim e dos meus gemidos, perdidos, quem sabe me esperando , enfim!...

Bem como meu velho carro...que se alegrava quando íamos juntos na mesma direção, sem se importar em ser um simples indigente, dormindo nos frios das madrugadas!...

Ele está aqui do meu lado agora...não me abandonou...

...e quando olho pra ele...arrisca com seu olhar meia bola; "quando vamos pra lá novamente?" Meu coração responde clemente:

Quando Deus entrar, verdadeiramente, no coração da minha amada!...

Joel A Silva
Enviado por Joel A Silva em 15/06/2018
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