Localização

Certa vez pensei que a dificuldade da vida, aquela dificuldade que reside na vivência e na essência dessa coisa curiosa e relativa, é a dificuldade em nos localizarmos.

Entender onde realmente estou, num plano além do físico, é uma tarefa exaustiva e variável, já me fitei através de um espelho e imaginei-me sendo um ator em tantas peças e palcos diferentes, me vi pobre, me vi rico, me vi saudável, me vi doente, me vi bem-aventurado na vida e me vi isolado no mundo. Como humilde estudante das ciências naturais, compreendo que se localizar é também saber o quando, este quando depende do total, do começo e do fim, e é igualmente exaustivo tentar refletir sobre onde comecei e quando terminarei, quanto tempo terei e até mesmo qual é o sentido de todo esse tempo. Tenho eu um dia a menos ou um dia a mais quando me desperto durante as manhãs?

Pergunto-me também se é necessário me localizar, se é necessário descobrir onde estou, posso continuar velejando sem um mapa ou uma bússola, a mercê do vento e da maré, todavia, será que chegaria a algum lugar ou morreria no mar como um tolo e ingênuo com sonhos épicos esquecidos?

Busco me encontrar para entender os caminhos que posso seguir, mesmo assim sigo sem saber donde vou, traço caminhos em que não há recuos. Nessa longa caminhada algo é certo, vejo necessidade em vencer a inércia do repouso, quero sentir o vento em meu rosto mesmo sem saber donde este vem, fitar as brisas e as nuvens ponderando com aquela ligeira incerteza se findará meu dia em chuva ou em quentura.

Talvez, no âmago de meus pensamentos, minha maior dúvida e desejo

não seja minha localização, mas a própria viagem em si de minha alma.