A SABEDORIA É FLEXÍVEL

A evolução, assim como o tempo, caminha inexoravelmente para frente. Ela pode mudar de direção, mas não volta para trás. Ela pode levar o indivíduo a modificar ou até mesmo a substituir conhecimentos adquiridos anteriormente, mas não retira o que foi adquirido, ainda que este conhecimento permaneça adormecido no seu possuidor.

O Ser Humano sim, é que tem um comportamento diversificado em relação a todos os conhecimentos que adquire na sua evolução, escolhendo a forma e o objetivo para o qual os conhecimentos serão utilizados. Sobre os conhecimentos, o Ser Humano estabelece as suas convicções, e sobre elas, temos também comportamentos diversificados. Alguns firmam as suas convicções e as consideram como definitivas, imutáveis, e quando se defrontam com opiniões divergentes, simplesmente as ignoram, sem se darem ao trabalho sequer de as examinarem, e muito menos de considerarem a possibilidade de que as suas convicções, eventualmente, poderiam ser modificadas ou substituídas. Geralmente nem sequer examinam com profundidade essas concepções que divergem das suas, desconsiderando-as por antecipação. Ainda temos aqueles obstinados que se empenham em impor suas ideias aos demais.

Outros agem exatamente ao contrário. De início, nunca consideram as sua convicções como definitivas e imutáveis, e quando se deparam com concepções divergentes, examinam-nas profundamente, e as utilizam para, se for o caso, modificar, substituir ou reforçar as suas próprias convicções, mantendo um critério imparcial e pragmático, não se sentindo diminuídos se alterarem ou substituírem as suas convicções, e nem se julgando super-homens se considerarem que prevalecem as suas ideias sobre as que examinaram, pois continuam considerando que suas convicções não são imutáveis.

Temos exemplos, no antigo e clássico confronto ideológico entre a ciência e a teologia, sobre a crença em Deus e o ateísmo, e sobre o evolucionismo e o criacionismo. Também o confronto entre os democratas da livre iniciativa e os comunistas da economia estatizada. O primeiro confronto dificilmente será resolvido, pois as questões em disputa são improváveis de ambas as partes, enquanto que o segundo confronto não terá um consenso, talvez em função de grandes interesses envolvidos, em ambas as vertentes.

Curiosamente, quando um famoso cientista ateu muda para crente, os adeptos do ateísmo não percebem, ou não querem perceber, e nem se interessam em saber por que um sujeito com profundos conhecimentos científicos e um intelecto avantajado, mudou de posição. O mesmo ocorre se um crente respeitado na sua comunidade se torna ateu, pois logo todos se escandalizam e jogam a culpa no diabo, sem procurar conhecer os argumentos do novo ateu, para aprimorar as suas convicções. No campo político também há complicações, pois nunca se sabe quando se trata de um fiel e sincero adepto da doutrina, ou de um interessado apenas nos seus benefícios e vantagens pessoais.

Temos por exemplo, o caso do cientista Francis Collins, que foi Diretor do Projeto Genoma, um ateu que se converteu ao Cristianismo, autor do livro “A Linguagem de Deus”, de quem registramos o pensamento seguinte:

“Descobri que há uma harmonia maravilhosa nas verdades complementares da fé e da ciência. O Deus da Bíblia é também o Deus do genoma. Deus pode ser encontrado na Catedral e no Laboratório. Investigando a criação incrível e majestosa de Deus, a ciência pode na verdade ser uma forma de louvor”. (Francis Collins)

E também o caso do cientista Albert Einstein, conhecido e respeitado por todos, que disse:

“Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis do Universo – o único caminho é a intuição. A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia”. (Albert Einstein)

Além disso, alguns apologistas da Razão, alojados nas Ciências da Natureza, já ensaiam uma rendição ao Espírito, seguindo o exemplo do Cientista Francis Collins, como se observa no texto abaixo, publicado na Revista Super Interessante (fevereiro/2016), na primeira página:

“É Razão ou Intuição? (...) Nos últimos séculos aprendemos a acreditar que o mundo é polarizado, binário: razão ou emoção, ciência ou arte, conhecimento ou crença, esquerda ou direita, certo ou errado. Mas a verdade é muito mais complexa que isso. E tudo que é complexo tem mais de uma dimensão. Cada vez mais os cientistas se dão conta de que os aspectos espirituais, emocionais e intuitivos da vida são fundamentais. E que sem eles, a compreensão do Universo jamais estará completa”.

Isso nos mostra que os sábios mantêm as portas e janelas sempre abertas, para acolher a Sabedoria (Sophia), tantas quantas vezes ela vier visitá-los, sempre dispostos a rever as suas convicções, alterando-as ou as substituindo, até o último alento da consciência.

Nesse percurso, o bom senso e a prudência recomendam que não sejamos precipitados em criticar afoitamente as ideias opostas às nossas convicções. É mais conveniente analisar com profundidade essas ideias, deixar o tempo correr, explorando continuamente a evolução, para que no futuro não tenhamos pesos irremovíveis na nossa consciência, por ações ou atitudes que não poderão ser apagadas, mesmo com o arrependimento.

O exercício coletivo dessa flexibilidade é um dos caminhos para um respeitoso convívio entre os Seres Humanos, um eficiente canal para o intercâmbio de conhecimentos e uma grande oportunidade para o crescimento racional e espiritual de todos.

Edgar Alexandroni
Enviado por Edgar Alexandroni em 29/05/2018
Código do texto: T6349611
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