A chuva de cada um.

Tic tac. Tic tac. Tic tac.

O lápis batia na folha branca enquanto apoiado sob uma das mãos, eu perdia-me no vazio da minha mente. Encarei o relógio na parede e parecia que só haviam se passados 2 minutos desde que olhei da última vez. A noite estava chuvosa. Era um típico final de dia de um mórbido outono, onde até os mais sãos poderiam enlouquecer. Olhei outra vez a folha em branco, sem nenhuma linha que pudesse distorcer a realidade mesmo que momentaneamente, existia. As gotas de chuvas corriam pelo vidro da janela, e como se fossem unhas num quadro negro atormentavam a minha mente. Sinto-me sozinho como nunca antes. Novamente aquele golpe no estômago veio até mim. Era como uma injeção de gelo e concreto na espinha, algo que atordoava o meu corpo de tanta dor.

A chuva continuava lá fora. Dizem que quando um ente querido morre, ele torna-se uma estrela no estrelado céu. Perguntava-me se aonde ela estivesse, naquele imenso céu, eu poderia ver o seu brilho. Uma pequena brisa adentrou o quarto mesmo com a janela fechada, fazendo a vela sobre a mesinha apagar a sua chama. Uma leve sensação fria tomou conta do quarto, como um soprar da Sibéria, me deixando imóvel. Senti um leve deslizar de dedos na nuca, algo que arrepiou o meu corpo como uma corrente elétrica, um pequeno pulso de adrenalina. Senti um odor de rosas e algo a madeirado, como se juntos formassem a sinfonia de um perfume por mim conhecido. O meu coração palpitava como um cavalo a disparar numa corrida, a garganta seca como terra árida e um misto de dor e agonia preenchiam o meu corpo. Ouvi, como voz de sussurro, palavras ditas lentamente nos meus ouvidos: “Tudo vai ficar bem”.

Ali, o lápis escapou dos meus dedos, fazendo barulho ao se encontrar com o chão. A chama outrora apagada voltava a encandecer-se e a brilhar. Naquele momento, apoiei-me sobre a mesa, protegendo o rosto com os braços e senti que a chuva não estava mais lá fora, agora tomava conta de mim, acariciando o meu rosto como se fosse a janela.