ANEDOTAS FILOSÓFICAS

Com tanta coisa acontecendo em nossa sereníssima república, como dizia Paulo Brossard, vamos rir um pouco. Para não chorar.

ANEDOTAS FILOSÓFICAS

Muitos sábios definem o ser humano como o único animal que ri de si mesmo. Elaboramos livros, piadas, paródias musicais, peças de teatro, filmes, óperas, quadros, esculturas, revistas, e uma infinidade de obras inteiramente dedicadas a mostrar de maneira engraçada nossas mazelas, nossos acertos, nossos infortúnios e nossas alegrias. O riso é uma das reações provocadas por essas peças, em minha opinião é a que possui a menor importância. Rir é um reflexo imediato de nossa mente quando nos deparamos com pessoas, personagens, situações, sentimentos, naturalmente engraçados ou estereótipos que retratam nosso mundo de uma ótica que ainda não havíamos visto. São contrapontos da lógica do cotidiano que nos chamam atenção para pontos de vista inusitados. Essa fuga do comum provoca risos, espanto, reflexões. E serve de alerta para os perigos e os ridículos do nosso mundo. Mas nem sempre foi assim.

A Santa Inquisição condenava o riso como sendo uma degeneração dos costumes, uma criação do Satanás que contribuía para a degradação dos homens. A comédia, gênero típico de autores clássicos como Aristóteles, Dante, Virgílio, era seriamente condenada por provocar um afastamento e uma falta de temor a Deus, o que enfraquecia as bases do poder da Igreja. Herdamos dessa época o preconceito de que só as pessoas de cara fechada, por mais idiotas que sejam, devem ser levadas em conta e ouvidas. Os sorridentes, os que conseguem ver o ridículo humano, os que riem de si mesmo e das besteiras que perpetramos, não são levados a sério. Deveria ser ao contrário. Normalmente os autores e artistas capazes de retratar e reproduzir situações ou cenas da grande comédia humana são inteligentes, e muitos são pessoas tristes, mas com um senso crítico acima da média. Não é por acaso que A Divina Comédia e D. Quixote de La Mancha são obras notáveis que nos fazem rir e, ao mesmo tempo, mostram o que há de pior e de melhor no espírito Humano. Enfim, rir é uma coisa muita séria.

Muitas anedotas, ou piadas, mostram pontos de vista não pensados:

A ÓTICA DA FORMIGA: ao saber que a cigarra, ao contrário da fábula, ia se dar bem fazendo show em Paris, além de escapar do rigoroso inverno que se aproximava a heroína da história original, faz um pedido: “-Vai á Paris? Se ver um tal de La Fontaine por lá, manda ele para o inferno!”. Dei muita risada com essa piada. É a realidade revisitada com aspecto não levado em conta: o talento da cigarra. Um belo exemplo da diferença entre esforço e talento, que tanto vemos no cotidiano.

A ÓTICA DO MATUTO: a namorada do matuto, vendo o boi lamber a vaca e querendo quebrar a timidez do namorado, diz a ele:” –Zé por que ocê não faz como o boi?”. A resposta: ”-Será que a vaca deixa?”. Quer mais lógica para uma pergunta mal formulada? Uma pergunta idiota com a resposta adequada.

O RACIOCÍNIO ANALÓGICO DA MATUTA: “-Zé, poirque o cachorro tá pegano a cachorra?”.

“-A cachorra tá no cio e solta um cheiro que o cachorro percebe e ai ele cata ela, uai!”.

“E o poirquinho? ´poir que esta catando a poirquinha?”

“ Oh Maria, é a mesma coisa. A poirca solta um tar de feromono, sei lá, que o poirco cheira e cata ela.”

“-Zé, conta uma coisa: ocê tá com o nariz túpido?”

E por ai vamos escrevendo a grande comédia da vida. Abraços a todos.

Paulo Miorim 24/05/2018

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 24/05/2018
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