PARA QUEM VOCÊ ESCREVE?
A palavra escrita é um poderoso instrumento de comunicação entre os Seres Humanos perdendo apenas para a projeção de imagens, que bem definidas, são irrefutáveis.
Os grandes inimigos da palavra escrita são a interpretação e o sofisma, aquela sujeita à graduação intelectual do escritor e do leitor, e a inevitável adaptação às suas convicções pessoais, e este, sujeito à habilidade do sofista em mascarar os escritos e conduzir o leitor para a interpretação conveniente e compatível com as suas pretensões.
No Brasil, quem escrever sobre futebol, por exemplo, deve entender bem do assunto e escrever muito bem, pois o povo brasileiro entende muito desse esporte. É evidente que os assuntos técnicos e os que forem mais complexos pela sua natureza, por si mesmos promovem a exclusão de muitos leitores, seja pelo desinteresse pelos assuntos ou pela incapacidade de absorver o seu conteúdo. Por outro lado, sejam livros ou textos esparsos, eles não devem ser muito extensos. Ao contrário, devem ser bem sintéticos e escritos numa linguagem simples e bem acessível, mas nem sempre possível pela complexidade das questões abordadas, para que possivelmente sejam lidos por alguns.
Por estranho que pareça, existem escritores que escrevem, ou escreveram para si mesmos, como por exemplo, o Teósofo Jacob Boehme. Isso se explica facilmente, pois as ideias são voláteis, especialmente as mais complexas, e o preventivo cuidado em registrá-las por escrito, evita a possibilidade de perdê-las pelo esquecimento.
No caso de Boehme (1575-1624), o sapateiro alemão, os seus escritos ficaram esquecidos por mais de 150 anos, até que foram descobertos por aqueles que tinham capacidade de perceber o seu valor, e então eles percorreram o mundo civilizado, que até hoje se esforça para apreender todo o seu extraordinário e profundo conteúdo teosófico.
Os escritores podem se defrontar com opções: a caçada de leituras, conveniente sob o aspecto financeiro e para o culto à egolatria, mas prejudicial sob o aspecto literário; ou abrir mão desses “benefícios” em prol da autêntica qualidade da sua produção. Neste caso, a exemplo de Boehme, nem que seja para escrever para si próprio e instaurar o seu arquivo particular.
Pessoalmente, com as escusas pela ousadia, escrevo para os leitores mais inquietos sob o aspecto espiritual, inclinados pela busca imparcial e sem preconceitos, desse tipo de conhecimento, mesmo que os meus escritos fiquem adormecidos por 150 anos no Recanto das Letras. Mais importante é lançar as sementes ao vento, na expectativa de que algumas delas venham a cair em terra fértil. Neste caso, a missão terá sido cumprida, pois onde e quando as sementes brotarão, não é da competência do semeador. (Mateus 13;1 a 23)