FANTASMAGORIA E ESCRITA NÔMADE

Há algo que sempre permanece não pensado dentro do próprio pensamento. Algo que acontece como um lado de fora do significado e, entretanto, desenha a nervura do sentido. Trata-se de algo que ultrapassa a forma-homem, que a remove e apaga como campo de intencionalidades, como artificio estruturante de cognição, expressão e comunicabilidade, eliminado toda causalidade que oprime a escrita, pondo em xeque, portanto, todos os códigos retóricos.

A literatura é o jogo de enunciados privilegiado para esta transcendência da dualidade entre significante e significado por intermédio da linguagem, que nela se volta sobre si mesma, quando foge as normativas do seu próprio campo discursivo. Assim, todo dizer se torna um dizer do que é dito que não se reporta a qualquer objeto. A qualquer norma ou ordem discursiva. Tudo se faz fragmento, simulacro e deserto no acontecer nômade e imaterial de uma narrativa.