Não Quero Ser Amarga
"Não quero ser amarga, não posso ser amarga", mesmo assim, o veneno ainda destilava em minha boca.
—Vou engolir.— Avisei a Deus, mas nada acontecia.
"Mate-me", eu implorava, " mate-me, Deus". Quem melhor para me dizimar se não a divindade que me formou?
Ontem eu coloquei o rosto no chão molhado e senti os pequenos grãos de areia rasgarem minha pele. Eu mordi um pedaço do mundo e o envenenei com minha amargura. Deus havia colocado toda dor do mundo dentro de mim e eu estava vomitando na humanidade. "Não quero", resmungava, mas Deus com sua onipotência me fazia engolir. E eu engolia, regozijada por poder partir.