Curitiba, 02 de abril de 2018.

As mesmas memórias que aquecem o coração nas mais gélidas noites da existência também atordoam quando confrontadas com a realidadeRecriam uma era, redesenham o retrato de uma pessoa querida que já não mais faz parte do presente, tendo ou não sido consentido o ‘adeus’. Um local de grandiosa estima, um aroma que desperta sensações que jamais se repetirão, uma canção que traz à tona sentimentos até então contidos, adormecidos. E os sonhos, os sonhos que se não perderam a razão e a motivação, se perderam pela inanição de coragem para busca-los.
Os sonhos da mocidade que se dissiparam pelos ares. A inquietante angústia de sentir que o tempo não deixa escapar um só segundo e a certeza de que tudo tem um fim, cedo ou tarde. O tempo está passando mais depressa do que deveria (ou não), questão de percepção. Passando, de qualquer forma, convertendo o presente em passado, apagando pouco a pouco os resquícios de inocência. Tem nome isso: saudade. Uma definição exata que contemple as inquietações das almas mais céticas, não se tem conhecimento ainda, todavia os olhos marejados podem explicar a razão de eles se perderem num ponto do infinito. Um ponto qualquer, não importa.
Retalhos não-lineares a respeito da existência fazem convergência de tantas histórias numa só, de maneira que simples palavras se relevam um tremendo desafio. Recontar é reviver, embora o esforço para juntar as peças se revele trabalhoso porque requer mais do que prover sentido às palavras, mas direcioná-las ao objetivo certo.
Memórias, acima de qualquer justificativa, são a maior prova de que um dia todos nós estivemos juntos porque se hoje amores descartáveis são registrados com tanta facilidade graças à tecnologia, amizades de conveniência se esfarelam no primeiro tropeço e todos parecem de mentirinha, as nossas estão guardadas com certa segurança onde ninguém vê. Dentro do coração.
Por mais que todos tenhamos vivido a mesma época sob diferentes olhares, um ponto em comum nos iguala: as memórias. Porque por um bom tempo fomos conjugados no plural. Embora na posição de alunos, também fomos professores uns dos outros, uns com os outros. A linha tênue não ficou clara o suficiente para que nos guiemos de outra forma. Aprendemos e ensinamos. Ouvimos e falamos. Trabalhamos em equipe. Choramos e rimos.
Sabíamos nós que tudo o que vivemos um dia não passaria de uma memória? Terão essas palavras alguma dimensão de que daqui a quinze anos também serão memórias?
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 01/05/2018
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