Assim Vespertina ao Retornar da Guerra

Me vi então refletida naquele espelho que há anos não me refletia. A luminosidade que me tornava visível em sua superfície, a profundidade do sorriso contido, como eu quis chorar! Mas há outros tantos espelhos a me esperar e eu, tantos outros olhos com os quais me confrontar nesse espantoso campo de batalha. Não há nada que viver possa me assegurar exceto a luta por viver cada vez mais até que se esgotem todas as munições ou eu seja pega de maneira imprevista por meus supostos aliados. Mas vocês talvez saibam, ora aliados, ora inimigos, os termos são sempre os mesmos, rios que desembocam no mesmo mar: família!

Costuma -se sonhar. Há quem o faça bem. Não, não é isso o que me apavora. Às vezes creio até possuir tais habilidades. Mas como há de erguer prédios quem desde criança se ocupou de desalojar sentimentos? A minha tendência à insônia constitui uma das minhas melhores armas. Sempre engatilhada, não coopero com os faustosos abutres que a minha carne miram com precisão e interesses para além dos habituais. Nas trincheiras do amor materno que estabelece as fronteiras desse campo de concentração denominado “ambiente familiar”, nunca antes ouvi tão encantadoramente tal frase, a qual antes acreditava ser noutro idioma: “a grande força do fraco consiste em crer na sua fraqueza. Quem há de detê-lo quando enfim suas forças definharem?”. Olha-se para o céu. Dele nos pertence sua metade.

Ao longo do trajeto - alguns tanto quilômetros que se devoram entre o rugido das máquinas, desaparecendo entre a grande concentração de dióxido de carbono-, me percebo cochilando, desatenta, bem-aventurada nos desígnios da morte. Ajusto a minha postura, abro os olhos como quem afirma “agora acordei!” e percebo dezenas -em torno de 23, para ser honesta- de espelhos apontados para mim, aquilo que imagino por ventura ser eu. Eu…? É sempre um mim que flerta com me, e vice-versa. A conversão ocorre sutilmente, não havendo nunca a lacrimosa e quase-desesperadora possibilidade de imunidade de arrecadação de impostos sobre a minha pessoa.

E apesar disso tudo, há quem diga - e não a cultivar sobre o terreno dos sonhos, pois este rega com a saliva da fome o proletariado diariamente- que o Imperialismo não existe.

Dedicado a todas e todos cujas vidas são guerrilhas.

Jay!

Inaê Diana Ashokasundari Shravya
Enviado por Inaê Diana Ashokasundari Shravya em 01/05/2018
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