Espinhos.
Doeu. Cada momento da partida doeu como espinho fincado em zona sensível demais para ser dilacerada. A respiração ficou, por tempos, rápida como se estivesse em diferentes condições de pressão... Como se eu, a partir daquele momento, estivesse posto em cumes altíssimos e precisasse sobreviver.
Como toda ferida que é aberta, saí em busca de alguma droga para ajudar na cicatrização. Mergulhei em mim. E me perdi dentro dos oceanos de minh'alma, vagando assustado pelos quatro cantos da rosa dos ventos do meu ser. O remédio, tal qual veneno inverso e impreciso, me causou ainda mais dor. Me contorci. Perdi a consciência. Não sei o que me tornei a partir de então.
Feito figura amorfa que precisava de um ponto de referência para se (re)estabelecer parei ditante de um outro eu igualmente perdido e dilacerado. Neste momento horroroso percebi que os espinhos (por mais distante que estavam do ponto inicial onde foram fincados) ainda latejavam. Vi neste "outro eu refletido" a dor de um momento que já não me cabia. Comecei a me autoflagelar e, pensando que me punia, mal sabia que estava em um processo de libertação. Com a ferida exposta, coloquei o dedo fundo em busca dos espinhos que em mim foram cravados... A dor refletia como um mantra silencioso em minha face, a qual encontrava-se contraditoriamente em paz.
Comecei aos poucos retirar os espinhos. Cada pedaço apartado da carne (feito processo de autoconhecimento) me preenchia com um eu desconhecido que a muito estava querendo me visitar. Aos poucos, aquele ser amorfo, estranho e repugnante, foi cedendo lugar a uma face conhecida. Mal me reconheci de tanto que estava perdido em mim.
Retirar os próprios espinhos é conhecer a dor e aceitá-la. É dizer (olhando para o interior) que as cicatrizes que agora se formam serão troféus da sobrevivência. É voltar a respirar, mas agora uma respiração consciente. É Deixar para trás os espinhos e a dor, porém, seguindo com as cicatrizes. Cicatrizes que, feito totem de segurança, me garantem nunca voltar ao estágio anterior.
A vida é um o ponto exato de convergência entre o fantástico e o clichê!