A Filosofia da Consciência Absoluta - Início

Não “houve” um princípio ou um “antes”. O que há é um campo feito de um conceito abstrato que, perpétuo e contínuo, faz-se; e, na atemporalidade, realiza a sua plenitude. Na atemporalidade não existe início ou fim.

Perpétuo, contínuo e atemporal – é também intangível, irracional, sem propósito – enfim, abstrato. É o campo do possível (nomeado também como nada-originário). A “possibilidade” é o conceito abstrato que há no campo de um nada-originário, pois este “nada” não é como sinônimo de “nulidade” ou “vácuo”; trata-se tão somente de um “nada” que se caracteriza pela possibilidade de um “tudo”. É preciso haver “nada” para que o “tudo” venha a ser.

Quando não havia o universo tal como o conhecemos hoje, havia o nada-originário (isto é, a possibilidade de tudo-e-qualquer-coisa). Deste nada-originário tudo e qualquer coisa poderia vir a ser; deste nada-originário o Universo veio a ser.

Não tinha nome, não se chamava Universo. Cientistas têm conhecimento de que uma provável explosão deu origem a este Universo e, decerto, pode ter sido isso. No nada-originário, afinal, há o campo da possibilidade de qualquer coisa vir a ser, seja uma explosão ou coisa alguma.

Acontece que o Universo veio a ser pelo campo do nada-originário, e, portanto, possuía a mesma característica deste campo: a possibilidade. Contudo, havia “algo a mais” em sua constituição, pois, o Universo ele mesmo era “alguma coisa” e ser-alguma-coisa não era característico do nada-originário, pois este campo do nada-originário não “é” alguma-coisa, ele simplesmente há.

O Universo veio a ser como “algo” que “é” e caracterizava-se pela possibilidade (herdada do campo do nada-originário) e, também, possuía a intuição da criação.

Como pude chegar à essa conclusão? Ou melhor, como pude chegar nestas conclusões que já redigi e que ainda redigirei dentro da Filosofia da Consciência Absoluta? Foi por um único meio que encontrei estas respostas: meu próprio ser. E aqui não falo de subjetividade, crença ou criatividade, falo de autoconhecimento e autoanálise; falo do estudo minucioso sobre a constituição humana.

Do nada-originário o Universo veio-a-ser e, sendo, expandiu-se o quanto a possibilidade do nada-originário lhe proporcionava e, sendo o nada-originário perpétuo e contínuo, o Universo não parou de se expandir e expande-se desde então. O Universo não tem corpo e, por isso, não tem limite ou margem; ele se expande perpetuamente.

Cientistas avaliam a possibilidade de o Universo parar sua expansão e/ou retroceder o que já expandiu. Como um imenso pulmão que inspira e, depois, expira. Neste caso, haveria um limite para o Universo: ele próprio. Por talvez não possuir a perpetuidade e a continuidade do nada-originário, não poderia ser infindo.

A única possibilidade para o Universo é a intuição da criação e a possibilidade (enquanto campo possível, ser ou não perpétuo é uma possibilidade). Enquanto possibilidade e intuição da criação, o Universo cria outros campos de possibilidade. O Universo é como a mente humana, porém, sem um crânio como margem e limite; deste modo ele vive para criar coisas, coisas cheias de possibilidade e cheias de intuição; coisas tão “vivas” quanto ele. Ser “vivo” significa movimentar-se e ter forma; o nada-originário não é vivo, não está vivo; como eu disse, ele não “é”, ele há.

Por que o Universo veio-a-ser como “algo” com “forma” e com intuição da criação? Eu não sei. Do nada-originário qualquer coisa poderia vir-a-ser, bom para nós, humanos, que o que veio-a-ser foi o Universo. Uma coincidência? Não. Se foi justamente o Universo que veio-a-ser a partir do nada-originário, quiçá o nada-originário há como campo especialmente ideal para um Universo vir-a-ser, afinal, é abstrato, perpétuo, contínuo, atemporal; essas peculiaridades são poderosas. Algo tão poderoso facilmente proporciona o que é preciso para algo tão poderoso quanto vir-a-ser.

Olhemos para a Natureza; não há resposta para os porquês humanos: por que os cachorros latem e os gatos miam? Pela anatomia? E por que a anatomia deles são assim? Evolução? Por que evolução? Por que assim e não de outro jeito? Por que somos humanos e não plantas?

Perguntas diferentes para uma única resposta: o Universo não tem um porquê; o nada-originário há enquanto campo de possibilidade e não enquanto campo de sentido. Se as “coisas do mundo” são como são, são, pois, vieram-a-ser desta maneira diante o que o campo de possibilidades fornecia.

O nada-originário enquanto campo, proporcionou o vir-a-ser do Universo; a Terra enquanto campo que o Universo proporcionou o vir-a-ser, proporcionou o vir-a-ser de cachorros que latem e gatos que miam. É simples, é um ciclo, é contínuo enquanto houver Universo. Tudo aquilo que vem-a-ser dentro de um campo de possibilidade, vem-a-ser de sua maneira singular e particular. Do nada-originário o Universo veio-a-ser com a característica particular da intuição da criação (o Universo não fez-se simplesmente com “tudo dentro”, lentamente ele foi se firmando, expandindo, tomando “forma”; da Terra enquanto campo de possibilidade, o cachorro veio-a-ser como um “algo” que igualmente “evoluiu” até tornar-se o que hoje é.

O vir-a-ser é símbolo perene que vincula tudo o que “existe” (entre aspas, pois, “existir” é um termo a se discutir posteriormente – aliás, todos os termos entre aspas serão retomados posteriormente). Desde o nada-originário até a formiga: o vir-a-ser se manifesta. Nós, humanos, não “nascemos” no mundo ao sairmos do ventre, na verdade nós efetivamos o nosso vir-a-ser no mundo enquanto possibilidade e enquanto campo de vir-a-ser no exato momento em que deixamos o ventre.

Vir-a-ser não é um milagre, vir-a-ser é a única possibilidade – não resta nada além do vir-a-ser e não é preciso que “exista” algo além do vir-a-ser, pois, o vir-a-ser sustenta seu próprio sentido. Veja este mundo, observe o Universo nas noites mais claras, sinta o calor do sol e o frio da chuva – eis aí o sentido que sustenta a si próprio, sem milagres, sem porquês. Vir-a-ser é a maior dádiva, é o propósito em si, é o sentido em si.

Buscar “algo a mais” é desconsiderar o valor do vir-a-ser; a Filosofia da Consciência Absoluta existe por um único propósito: a percepção absoluta do vir-a-ser e de tudo aquilo que compõe a história do vir-a-ser desde o nada-originário. É como manter os olhos sempre abertos, disposto a ver e enxergar tudo o que “existe” exatamente da forma que “existe” sem nenhum julgamento como acréscimo, deixe-me dar um exemplo.

Uma pessoa está sentada em um banco no parque, segura um livro em mãos e o lê. Outra pessoa passa e observa a capa do livro, instantaneamente gargalha e continua andando enquanto pensa: “Que pessoa sem cultura, esse livro é horrível! É coisa da moda, literatura barata”. A pessoa em questão que lia no banco do parque, tem inúmeras formações acadêmicas em literatura e, ali, estudava um dos livros mais famosos da atualidade, pois, escreveria um artigo sobre o papel dos livros nos tempos digitais. Certamente não se tratava de uma pessoa sem cultura ou algo do tipo. E aquele outro indivíduo que a julgou, perdera a oportunidade de conhecer alguém, conhecer a verdadeira essência de alguém que vai muito além dos diplomas que possuí. E se ali fosse um sujeito que somente apreciava o tal livro de “literatura barata”, seguramente não há como definir alguém por ler um único livro. As pessoas são sempre mais do que o que aparentam, simplesmente porque possuem ideias, pensamentos, sentimentos, enfim, uma subjetividade singular – com campo de possibilidades, com intuição da criação.

Perceber quotidianamente e de modo consciente (isto é, de olhos bem abertos, bem limpos de julgamento e bem dispostos a ver) o vir-a-ser de cada “coisa” que “existe” desde o nada-originário – eis, repito, o propósito único da Filosofia da Consciência Absoluta.

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Sara Melissa de Azevedo
Enviado por Sara Melissa de Azevedo em 17/04/2018
Reeditado em 17/04/2018
Código do texto: T6311534
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