O seu dia vai chegar

Eu nunca fui de querer relacionamentos, sabe?

Corria da palavra compromisso como as bruxas fugiam da forca em sua época.

Acreditava que os relacionamentos estavam falidos (muitos estão, mas encontram-se exceções) e que não valia a pena se arriscar, se envolver. Pra você, talvez não valha. Talvez você tenha dado tanto murro em ponta de faca que em vez de adquirir um punho de ferro, seu coração foi quem endureceu, foi quem se amargurou.

Talvez você acredite que nasceu pra ser ímpar, que nunca vai ser par, que nasceu pra ser "eu" e que o "nós" não te pertence.

Mas deixa eu te contar. Uma vez conversei com o dono de um barzinho que eu sempre passava depois das baladas, amava aquela coxinha dormida e engordurada que tinha por lá.

Lembro que eu sempre chegava na hora que o sol abria, quando seu Saulo tava subindo o primeiro portão.

E ele sempre dizia, "filha, quando é que cê vai deixar de abrir o bar e abrir o coração?" Eu sempre ria, comia a minha coxinha e pensava, no meu íntimo, "nunca, esse dia não vai chegar!"

Aí eu conheci um cara, baladeiro, que tava hoje na balada e amanhã também, que bebia até amanhecer, dançava com todo mundo, mas nunca tava com ninguém.

Nessas danças e vodkas da vida, a gente dançou umas músicas, bebeu umas vodkas e riu de um monte de casal estranho que tinha por ali.

Engraçado, eu loira, ele moreno, eu brasileira, ele espanhol, eu rindo da vida e ele querendo o mundo, tudo compatível, né? Não!

E então, levei ele pra comer coxinha, uma, duas, três vezes, perdi as contas.

Lembra do seu Saulo? Ele olhava pra gente e ria, eu nunca entendi, até hoje.

Tem uns 15 anos isso, e eu ainda como coxinha lá, com o meu espanhol, umas duas vezes por mês, quando a gente deixa as crianças com a sogra e decide ir dançar e beber vodka. Igual àquele dia, o dia que seu Saulo riu da gente a primeira vez. Ele percebeu, antes de mim, que naquele dia eu abri o coração antes de abrir o bar e que eu não iria fechar no final do expediente, pelo contrário, o expediente ia continuar por muito tempo, por muito tempo!

Seu Saulo percebeu antes de mim, que meu dia tinha chegado, que as baladas iam diminuir, que o espanhol ia se "aportuguesar" e que eu iria querer o mundo também, ele percebeu que meu dia tinha chegado.

Eu tô te contando isso, porque acredito que o seu dia também vai chegar. Que você vai se abrir, que novos ares vão entrar, que seu sorriso vai ter motivos e que você vai gostar de amar.

- Nadine Queiroz