Meus questionamentos religiosos
Quando criança, fui influenciada pela minha avó paterna, que era católica fervorosa, mas eu mesma já me perguntava: "Quem criou Deus?" E depois, mãe me convenceu a ir à igreja evangélica e houve umas coisas que começaram a me incomodar. Diziam que Deus tinha planos para mim, que eu seria missionária e eu nunca gostei de fazer a cabeça de ninguém, mas diziam: "Deus tem planos para você." Uma vez, eu disse a mãe:"Quero arrumar logo um emprego para ir embora deste inferno e viver a minha vida normal e feliz." Ela respondeu:"Você sabe se este é o plano de Deus para sua vida?" Eu falei:"Deus quer que eu fique aqui até os cinquenta anos?"
Outras coisas que eu fui vendo é que ensinam que somos culpados desde crianças, que temos que carregar uma cruz porque Cristo morreu por nossos pecados. Mas eu não era nem nascida quando Cristo foi crucificado. Veja o que é botar na cabeça de uma criança que ela é responsável por um homem ter sido pregado numa cruz!
Também os pastores diziam que Deus tinha grandes bênçãos para mim e eu nunca vi nenhuma delas se tornando real. A verdade é que religião faz a gente duvidar do nosso discernimento. Eu lembro que me estimulavam a ler Jó para aguentar as provações e eu fui vendo que a história de Jó é uma prova cabal da crueldade do Deus bíblico porque, se Ele era onisciente, sabia que Jó seria sempre fiel, então, submeteu o coitado a um sofrimento extremo e desnecessário. As pessoas dizem que Deus não dá uma cruz maior do que a pessoa pode carregar, mas por que tanta gente não aguenta o sofrimento e comete suicídio?
Quando mãe morreu, uma senhora me fez participar de uma oficina de oração e eu fiquei foi mais deprimida porque lá só nos diziam que tínhamos que carregar nossa cruz. E o povo dizia: "Vamos orar por Maria Cândida para Deus dar forças a ela para carregar sua cruz e ser o sustentáculo da sua casa."
Outra vez, outra senhora me falou: "Deus prova mais os que Ele ama mais, meu amor, por isso você tem que aguentar."
Então, Deus ama mais as crianças morrendo de fome na África e o povo que vive em zonas de guerra e não ama quem vive uma vida boa.
Sabe, eu também notei que uma pessoa não precisa exatamente passar por sofrimento extremo para ser uma pessoa boa. Muitas pessoas que levam vidas boas são muito solidárias e ajudam os necessitados. Isso já é da natureza da pessoa.