Neuroses

Nunca tive grandes ambições materiais. Não, não me considere uma pessoa com dislexia. Não tenho preguiça de levantar cedo, dedicar horas, fazer todos os dias a mesma coisa, apresentar resultados concretos no mês e receber em troca um salário. Nada disso. Sempre gostei de acordar cedo, antes do sol nascer, abrir a janela, sentir os primeiros ventos da manhã saboreando um café com um jornal ou livro. Preferência um livro de Filosofia ou História, ou a parte cultural de qualquer jornal. Sair de casa, caminhar no sol e sentar em sala com pessoas interessantes e conversar sobre Literatura, Cinema, Música, Exposições, Arte no geral.

Eu consegui viver assim alguns anos. Com romantismo total. Mas a vida é cheio de gente narcisista e fodida como eu. A gente quer tudo que é imaterial, quer sentir o vento, o sol, o mar e lua. Aí você acorda um belo dia e o café saboroso de todas manhãs embrulha no estômago, azia, gastrite, uma possível úlcera nascendo. Chega na sacada para olhar a rua e o vento é cortante, passa um grupo de adolescentes bêbados e as perguntas que ficam no fundo do estômago juntamento com a úlcera é: Por que a maioria é tão idiota? Por que somos tão clichês? Até não querer ser clichê já virou clichê. Revistas, jornais, livros. Nada diz respeito ao estado de espirito do momento. Aquela sensação de ter sido colocado na cena errada, no momento errado, na história errada, no mundo errado. Desculpe galera, não li o roteiro. O que eu digo agora? Perdão. Não sei improvisar tão bem quanto Paulo Gustavo e ainda arrancar risos. Na vida mesmo, a gente esquece e abalado pelo silêncio absoluto. Tem-se um grilo no fundo. Sempre.

Mas eu saí dessa. Joguei tudo que pertencia a minha personalidade no lixo. Meu estilo de roupa, minhas ideologias, livros, pensamentos e ideias. Na verdade tudo que eu tinha era imaterial, ou quase tudo. Então "jogar no lixo" talvez não seja a expressão. Coloquei num canto da memória reservado ao esquecimento. Mas são só fragmentos. Um a menos.