Sobre o vazio
Peguei-me reflexiva a respeito do vazio: aquele grande espaço dentro de nós, o qual parece sugar todo resquício de amor próprio e estabilidade emocional. É a imensidão característica da ausência do sentir-se suficiente.
Nesses tempos líquidos modernos, como bem elucida o sociólogo Bauman, a gente está, sempre, em busca da completude. Mas, esta tem prazo de validade tão curto, quanto uma fração de segundos. Percebi o quanto estamos vivenciando tudo, de maneira tão intensa, como se o tempo futuro não fosse capaz de assegurar todas as demandas em mente.
Simultaneamente a esse fato, tudo vivido, fortemente, é desfeito rapidamente também. Isso me deixa triste. Eu o faço, porém me considero vítima desse olhar contemporâneo, a respeito das relações amorosas e qualquer vínculo afetivo que seja. Não queria desconstruir histórias feitas com tanta paixão, cautela e amor verdadeiro por me “cansar” ou “ter mais o que fazer” - quanta insensibilidade há nisso - já que me cobram afazeres ditos mais relevantes.
Hoje, tento reverter esse quadro aos poucos. Sinto falta do romantismo, das cartas de amor. Eu sinto falta do contato olho no olho, do toque humano. Até que ponto um aparelho pode substituir a presença de outrem? Eu não quero ser refém desse crime contra a essência do ser humano. Não quero propagar essa efemeridade, enquanto aspecto do sentimento. Muitas coisas poderiam ser diferentes agora. Sim, muitas coisas.
No final, o tempo se vai. A tecnologia avança, os relacionamentos passam a ser mais status social que outra coisa, o homem vai perdendo o melhor de si mesmo. No final, toda essa estupidez se volta contra “os grandes feitos” do indivíduo. A troco de quê? Do vazio existencial. No final, tudo foi em vão e nada consolidado reciprocamente. No final, a gente morre e perde totalmente o poder de amar. Isso que chamam de evolução?