A contrariada
Nós éramos um só. Cedi a você a minha metade e você me deu aquilo que faltava em mim, de maneira tão recíproca, que acalentou a alma. Mas, éramos muito novos e, ainda, estávamos aprendendo o que era amar. Precisamos tomar rumos diferentes em um certo instante e foram muitos.
Tantos amores vieram após o nosso desencontro, tantas histórias eu pude construir e lhe vi seguindo a sua vida, formando memórias na presença de outras pessoas. Nada que chegasse a um ponto tão sério e isso, de algum modo, me acomodou. Em nós, o sentimento não era algo que flutuava na superfície, nunca, possuiu tal caráter. Era muito vivo, assim como as flores costumam desabrochar na primavera. Nunca, foi necessário dizer-lhe o limite crucial de tudo que fosse tão íntimo, pois era você. O destino, com relação a nós, parecia uma criança, quando quer um brinquedo e os pais não dão: extremamente, insistente. Todas as peças do quebra-cabeça juntando-se desde que foram separadas há quatro anos atrás. Fazia tanto sentido!
Falou-me sobre uma música que descrevia, singelamente, a nossa relação. Dormi noites e noites escutando-a. Até que você se foi. Definitivamente, você se foi. De fato, encontrou quem estava procurando e eu, em uma mera ilusão, acreditava que esse alguém viria a ser eu novamente um dia. Doeu. Nunca, saberá o quanto. A sua ida foi uma demonstração de que a decepção é oriunda de situações mais inesperadas possíveis. Você foi embora e junto levou o carisma, a consideração, o zelo, o amor, sobretudo, a confiança. Ver-lhe partir, assim, foi a prova real de que não importa se alguém dá o melhor de si e espera receber o mesmo. Não há concepção mais errônea. A essência pode manter a raiz que, jamais, padece, mas as circunstâncias possuem o total poder de fazer e transformar o homem. O que vai lhe importar será o que mais for conveniente no momento em que se encontra.
Na verdade, eu diria que esse mundo nunca foi para amantes, apenas, para apaixonados. A paixão é líquida, já o amor é outra história. Os indivíduos contemporâneos conferem o caráter descartável aos próprios sujeitos. Não há nada mais lamentável que ter visto você fazer o mesmo comigo. Hoje, não consigo lhe ver, de outra maneira, a não ser como o próprio significado da indiferença. Mas, sobre o tempo eu sei muito bem e é perceptível que é rei. Por fim, eu desejo que, realmente, a tenha para amar e, como diz Frejat, espero que haja amor para recomeçar, quando se cansar.