O desvanecer das cores
Num dia nublado, ademais da melancolia clichê de que todos falam, existe um pesar, não na chuva, em mim que é deflagrado suavemente, quase que como um afago. E por ser assim tão suave e delicado eu me pego refletindo aquelas palavras, aquelas que pareciam ser só mais algumas sentenças. Juntas, sentenças e sentimentos arquivados colocam na sua retina o zoom cinza do dia nublado. O sol ausente ressalta o opaco, as cores sem brilho, me mostra meu lado contrário, meu lado controvertido, meu lado mau, meu lado avesso, meu lado perverso, animalesco. Nesse dia dentro de mim há uma bagunça só minha, e ninguém, absolutamente ninguém, tem autorização para entrar no terreno do meu EU. Ali as mais severas reflexões sobre a vida, sobre o que eu sou e para onde eu estou indo, iniciam aquele tão conhecido processo de tortura, tortura porque ali estou completamente sozinha, e por mais que haja esforços, meus e dos outros, para que a ajuda entre e me retire do cativeiro, o meu eu precisa estar só. Nesses momentos eu quero ir ver o mar. Quero lembrar-me da estupida canção que se escora no absurdo do oximoro e diz que é doce morrer no mar. É lá que eu afogo essas tristezas e abandono a palidez das cores que morreram em mim, lá eu abandono as palavras, de tempos em tempos consigo abandonar as sentenças, e se a maré estiver violenta, de ressaca eu deixo também os sentimentos. Ora que tamanha tolice a minha porque também de tempos em tempos com os pés molhados no raso da praia a maré vem e me devolve algumas cores desvanecidas.