Caí
O céu estava como leite, morno e lívido, branco até que se pingasse felicidade - ou café- na forma de um sabiá em seu mar de nuvens. Quão bonito seria morrer ali, naquele instante, no meio de um voo, no nascimento de uma lembrança... Entregar-me-ia à terra com prazer, manteria os olhos fixos naquele céu alvo, a notar sozinho os belos modos dos vermes que me devolveriam ao eterno.
E começa o outono. Vem calmo, com a necessidade de calor - de amor. Mas aí de quem não sabe amar! Desaventurados os que sabem...
Vou passeando colorindo cada folha que caí na memória; elas caem gritando por não mais fazer parte de algo. E depois, ao ver o chão, curtem essa morte fadada a passar despercebida. Aí dos que percebem-a, pois estes já estarão cientes no inverno que o calor - o amor - é escasso e foge, e congela. No final tudo caí, tudo esfria, tudo morre. Não há nada mais belo que essa eterna e indomável queda. E, aliás, não há nada além dela.