Da mixofobia à mixofilia
O que aconteceu conosco?
Nós, humanos,
que perdemos o interesse
e a vontade de olhar
o outro com profundidade?
Por que nos isolamos tanto
em nossas redomas,
protegidos até de nós mesmos,
para não ver,
não sentir,
não conhecer?
A mixofobia,
Bauman dizia,
é o medo de misturar-se:
é o não querer estar perto
do estranho,
do desconhecido,
do diferente.
As cidades se constróem
para nutrir a fobia,
para nos deixar em agonia
e não permitir o contato,
não autorizar o estar perto.
Não se trata da proximidade
corriqueira da vida,
em que esbarramos uns nos outros,
o tempo todo
e não nos reconhecemos.
Trata-se da palavra oposta,
a mixofilia:
a vontade de conhecer,
misturar-se,
agregar-se,
sentir prazer em acessar a cultura
e o pensar diferente.
O que aconteceu conosco,
em que o medo do diferente
nos deixou ausentes
da possibilidade de viver o novo,
de estar com gente
de ver o invisível?
Até quando nos isolaremos
e não perceberemos
nossa falta de humanidade,
de amor e de solidariedade?
Até quando estaremos cegos
em busca do conforto
do não olhar,
não conhecer,
não abraçar,
não acolher?
Até quando?
Zygmunt Bauman fala desse tema em sua obra "Amor Líquido - Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos".