Amor na fase adulta
Dos vários impactos que sofremos na vida, considero o do amor maduro o mais forte e cruel de todos. Pelo menos até que outro me ocorra e mude meu ponto de vista.
A decepção no amor na vida adulta não é um período de luto que enfrentamos nos forçando as boas memórias. Não é um déficit no orçamento que te move a vender picolé na praia ou aquela doença que depois de encarada de frente te retorna a felicidade nas coisas simples da vida.
O amor na fase adulta é toda aquela camada de carne pulsando e enviando sangue para todo o corpo.
Quem nunca conheceu os seres assexuados que não querem mais nada com ninguém? Não falo de gente que anda renunciando à formalidade e às exigências de um casamento, mas de gente que de fato renunciou o direito de ser dois de novo.
É como uma mistura química onde vida adulta,amor e decepção, desse início a um novo indivíduo! Pior, não existe padrão de resultados. Daí nascem os descompromissados, os promíscuos, os tais solitários, e uma infinidade de outros seres que por graça ainda não conheci.
Amar enquanto adulto é pesado e isso não quer dizer necessariamente algo ruim. O amor amadurece dentro de nós e como todo ser vivo, cresce, amadurece, engorda e se expande!
É nessa hora que o bom e velho namorado (a) percebe que bombons e perfumes já não alimentam nem perfumam o suficiente. Temos a impressão de estarmos em um novo velho relacionamento doente... tão distante do começo de tudo....
A resposta? Simples e muita gente já ouviu, talvez apenas lhe tenha faltado aplicação à sua vida prática: "Amar é um decisão!". Contraponto? Apaixonar-se não está em nossas mãos.
O amor, agora denso, espaçoso, exige bem mais do casal. Compromisso em casa, financeiro equilibrado, mais amizade, mais companheiro, desdobramentos. Com esse tempo o amor pede tudo aquilo que foi dito, escrito, sentido e imaginado.
Agora tudo é maior. Você, as pedras no caminho, o sentimento e as decisões. E de todas as decisões que tomamos do começo ao fim (mesmo que esse fim seja morte), duas guardam todo o processo: a que inicia e a última, encerrando toda história.
Há sobreviventes? Claro! Muitos que logo sacodem a poeira e dão a volta por cima, não raras vezes inclusive mantendo contato com o ex-amor. Enquanto não decidirem que esta foi a última decepção, a vida segue seu fluxo.
O problema é que nem sempre estamos prontos pra terminar algo com a sociedade. Demoramos um pouco mais pra começar assim como para pôr um fim. Porém, fazemos, afinal, não sangra mais... É só uma cicatriz remexida que no fundo todo mundo tem, mas fica bem escondida dentro da gente.
Agora, sozinhos, o ciclo recomeça. Vida de solteiro, prazeres da turma, projetos, limpeza emocional...um novo ser nasce e embora só, pronto pra se aventurar num novo amor. E para este, apenas informo que paciência é pré-requisito. Se até aqui esse serzinho me gastou 13 parágrafos, certamente agora me tomará uns 26. Se isso é ruim? Depende... Mas sei que fica bem mais fácil quando o outro entende que apesar de livre, tudo isso ainda será a experiência do velho e puro amor na vida de adulta e é para a decepção nessa fase que andamos nos armando...