Cheguei atrasada, vinda de um contexto totalmente diferente. Matei a aula matinal para ir a um bloquinho, onde o samba e a bateria corriam soltos, livres, de qualquer impedimento. Homens vestidos de mulher, penas, plumas, flores nas cabeças, uma explosão de cores e uma diversidade linda! Carnaval com a família, amigos e desconhecidos, uma mistura interessante.
Sambar, pular, suar, observar, beber, curtir cada batuque, cantar junto!! Que delícia!! Mas a responsabilidade me chamava, tinha que ir assinar a lista, entregar o trabalho e cumprir o que eu havia me proposto a fazer.
E lá fui eu, naquele domingo ensolarado para mais uma aula. Quando chego toda animada, naquela vibração alegre que o samba causa, o tema da aula era preconceito.
Mais do que preconceito, racismo. Foi difícil sair da alegria, da superficialidade e mudar tão drasticamente de energia, demorou até que eu conseguisse sintonizar meu foco e minha atenção. Fez-se uma pequena pausa, o professor mudou, o tom de voz era outro, a entonação era outra, mas o que me fez voltar para a realidade foi uma imagem. Imagem chocante, que me fez chorar internamente e marejar meus olhos.
Uma negra, com um tipo de mordaça, de couro, impedindo que ela se alimentasse, tomasse agua ou falasse. Uma imagem vale mais do que mil palavras, disso eu não tenho a menor dúvida. Aquela imagem impactante imediatamente me levou a imaginar como seria estar naquele lugar, naquela pele.
Mas para mim uma branca descendente de Europeus, que nunca sofreu algum tipo de preconceito pela cor da pele, fica muito difícil. Posso imaginar, ter empatia, ter compaixão, mas saber exatamente como é ser amordaçado, açoitado, abusado, usado, humilhado, roubado do próprio Pais para ser escravizado do outro lado do oceano, isso não vou saber como é.
A aula foi profunda, o tema é instigante e a reflexão e discussão sobre esse assunto se faz totalmente necessária. Eu, que fui criada por empregados, que no lugar da mãe tive uma babá, que no lugar do Pai, para me levar e me buscar, tinha um motorista, sempre me achei livre dos preconceitos e do racismo.
Me sentia igual a eles e mais, eu me sentia melhor com eles do que com a minha família. Eu que na infância chorava por ter tudo e saber que muitos não tinham nada, me sentia acima desses questionamentos. Mas será mesmo assim? Será que na minha fala não existe um preconceito racista tão arraigado que nem consigo perceber? Será que no meu olhar não guardo algum tipo de arrogância europeia aristocrática?
Essa foi uma das reflexões que mais me tocaram, que mais me fizeram pensar em quem eu sou e como vou reproduzindo pensamentos, falas e atitudes que vão passando de geração em geração sem nenhum tipo de questionamento. Onde guardo e replico esse preconceito que corre nas minhas veias, no meu DNA.
Sem me culpar por algo que apenas agora tenho consciência e sem vitimar ainda mais quem viveu na pele essa história, o que posso fazer é honrar cada um deles, que ajudaram a construir esse País.
Honrar, respeitar, aplaudir e sambar!
Sambar, pular, suar, observar, beber, curtir cada batuque, cantar junto!! Que delícia!! Mas a responsabilidade me chamava, tinha que ir assinar a lista, entregar o trabalho e cumprir o que eu havia me proposto a fazer.
E lá fui eu, naquele domingo ensolarado para mais uma aula. Quando chego toda animada, naquela vibração alegre que o samba causa, o tema da aula era preconceito.
Mais do que preconceito, racismo. Foi difícil sair da alegria, da superficialidade e mudar tão drasticamente de energia, demorou até que eu conseguisse sintonizar meu foco e minha atenção. Fez-se uma pequena pausa, o professor mudou, o tom de voz era outro, a entonação era outra, mas o que me fez voltar para a realidade foi uma imagem. Imagem chocante, que me fez chorar internamente e marejar meus olhos.
Uma negra, com um tipo de mordaça, de couro, impedindo que ela se alimentasse, tomasse agua ou falasse. Uma imagem vale mais do que mil palavras, disso eu não tenho a menor dúvida. Aquela imagem impactante imediatamente me levou a imaginar como seria estar naquele lugar, naquela pele.
Mas para mim uma branca descendente de Europeus, que nunca sofreu algum tipo de preconceito pela cor da pele, fica muito difícil. Posso imaginar, ter empatia, ter compaixão, mas saber exatamente como é ser amordaçado, açoitado, abusado, usado, humilhado, roubado do próprio Pais para ser escravizado do outro lado do oceano, isso não vou saber como é.
A aula foi profunda, o tema é instigante e a reflexão e discussão sobre esse assunto se faz totalmente necessária. Eu, que fui criada por empregados, que no lugar da mãe tive uma babá, que no lugar do Pai, para me levar e me buscar, tinha um motorista, sempre me achei livre dos preconceitos e do racismo.
Me sentia igual a eles e mais, eu me sentia melhor com eles do que com a minha família. Eu que na infância chorava por ter tudo e saber que muitos não tinham nada, me sentia acima desses questionamentos. Mas será mesmo assim? Será que na minha fala não existe um preconceito racista tão arraigado que nem consigo perceber? Será que no meu olhar não guardo algum tipo de arrogância europeia aristocrática?
Essa foi uma das reflexões que mais me tocaram, que mais me fizeram pensar em quem eu sou e como vou reproduzindo pensamentos, falas e atitudes que vão passando de geração em geração sem nenhum tipo de questionamento. Onde guardo e replico esse preconceito que corre nas minhas veias, no meu DNA.
Sem me culpar por algo que apenas agora tenho consciência e sem vitimar ainda mais quem viveu na pele essa história, o que posso fazer é honrar cada um deles, que ajudaram a construir esse País.
Honrar, respeitar, aplaudir e sambar!