PORÇÃO MÍNIMA
Na fluidez dos dias escoa-se a vida,
Sabiás deixam de cantar, ou tal vez não,
Quiçá apenas mudam o rumo ou de lugar.
Tal qual as rosas que se caem,
Indo às raízes se juntar;
Igual, os rios que se fundem ao mar.
Corrente que traz ao pensamento
Espanto ao tempo que faz admirar
A mudança que se opera em tudo quanto há
A árvore que deixa de ser verde, desdobrada
Em tosco banquinho aos meninos vai alegrar
O mais alto alcançado, sonhos a embalar.
Liquidez que assombra e que faz lembrar
Do que ficara velho, da perda de valia,
Das sobras, sogras, e do porvir...
E enquanto eu não caduco,
Nos trocadilhos das horas a mim me toca colocar
A pilha do relógio que não é raro e não possui cuco.
Quanto ao tempo, este, que se tenta definir e contar
Não é senão um cristal bonito que se quebra quando cai
E quem sabe não seja somente – a porção mínima da vida.
Adornada em palavras - tal Aventura,
Na plenitude da madrugada morna,
Sob a lembrança do galo a cantar...
Onde os pensamentos se tenta eternizar.