_____________________VALSA NOTURNA
Hora dos sonhos, dos rasgos, do breu e das risadinhas infantis. Hora do estranho compasso dos ponteiros, dos olhos umedecidos e dos pés descalços.
Hora da valsa, do porão escuro onde se perdem as lembranças, do violoncelo entre as pernas, do som para satisfazer os passos. Hora de trégua proibida, do olhar melancólico e do beijo cheio de mordidas, do rosto sempre pálido e boca rubra convidativa.
Hora da alma gárgula, imóvel sobre o telhado, dos papéis cheirando a mofo, do balanço que movimenta-se sozinho e sem criança, daquela caixa que ninguém possui a chave, da sombra no canto da parede enrodilhada pela poeira...
Hora do vinho, apaziguador, de passos ocultos perdidos nos estalos dos degraus, do cheiro repentino de flor (dizem, mau presságio). Hora que, ao abrir a porta de entrada, o gato! De pelos molhados, faminto,talhado cansaço e aquele olhar embaçado de quem invadiu muitos quintais por aí.
tsc tsc tsc