O enxadrista
Calculada e friamente, mexes as peças deste tabuleiro.
Jogas bem! Blefas, omites, distorces. É um jogo, vale tudo, não é?
A vitória sobre a ingenuidade é mais saborosa
do que qualquer outra forma de soberania.
O adversário sofre, ansioso, sem conseguir prever tua próxima jogada.
Abre as defesas, tenta blefar também, mas não consegue. Não é de sua natureza...
Com teus olhos frios, consegues ler no fundo dos olhos dele
tudo o que planeja e os passos que dará a seguir.
Então, jogas. Fazes com ele se sinta confortável. Ele relaxa. Uma trégua, afinal.
Engano. É pura estratégia. Somente quando a peça cai ou é arrancada do tabuleiro,
de olhos arregalados, o adversário percebe. E sofre. De novo, não...
O jogo termina. Derrotado, teu adversário se retira, exausto da batalha. Não mais a dor.
Sentimento algum o preenche.
Nada mais, apenas o vazio...
Novamente montas o tabuleiro. Caprichosamente.
Antevendo o prazer em se mostrar superior, inteligente, estrategista e calculista.
Escolhes a dedo novo adversário...E recomeças...
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Falava eu do destino...Mas como disse um poeta meu amigo, a poesia é de quem lê e a ela dá sentido...
Reflexões do Mestre Fernando A. Freire, que me brinda com este carinho que nem sei se mereço. Obrigada, Mestre!
"O xadrez é lógica pura, onde o blefe não existe.
Na verdade, somente se o enxadrista adversário permitir o reposicionamento ou a troca ou retirada (indevidos) de alguma peça.
Mas vamos ao essencial: no jogo (i.e, na guerra), o Rei estará mais seguro se a Rainha permanecer ao seu redor.
Se ela se distanciar do Rei ficará vulnerável.
Até um peão poderá arrebatá-la.
Quem perde a Rainha no jogo, fatalmente perderá a partida.
É o mesmo jogo da vida.
O homem (no caso, o Rei) não consegue sobreviver sem a sua muleta (a Rainha).
Arrastar-se-á.
Definhará.
Só, somente perderá".