O tempo

Não me refiro ao meteorológico...

O tempo de que falo é o do contado pelo relógio...

O tempo que ninguém vê e na realidade nos envelhece, mastiga e macera as coisas.

Esse tempo é um fenômeno difícil de se definir.

É fácil senti-lo, mas acho complicado compreendê-lo.

O tempo do momento presente, por estar sendo vivido, muitas vezes nem é curtido conscientemente...

No momento presente o tempo não parece existir, não ligamos para ele.

No máximo o ponteiro dos segundos o denuncia, mas nos instantes seguintes, amontoado em anos, mostra ao ser vivo, em consequência, que ele existiu... É só olhar no espelho ou para alguém que não vemos frequentemente.

O envelhecimento ou o desgaste estão ali.

No ser não-vivo o mesmo fenômeno ocorre em forma de depreciação.

O momento, o gap do aqui e agora, revela quase nada do que está acontecendo.

Há animais que vivem poucos dias como alguns insetos, ou seja, o tempo passa por todos.

No entanto, há algumas situações que não sentimos sua passagem e nos surpreendemos com seus hiatos, com sua falta de percepção por nós; nessas situações o tempo passa e não percebemos. Um bom exemplo ocorre quando dormimos; esse gap de sono não é percebido por nós. O sono é um exemplo de não morte com retorno garantido e desejado. Outra situação, me parece, é a da morte: o gap simplesmente não mais terá consciência e o ser simplesmente não retoma mais a noção de tempo nem de nada. Uma terceira situação de não consciência da passagem do tempo, ou seja, um gap, ocorre quando estamos muito ocupados com alguma atividade de muito interesse. Nessa situação, as atividades menos interessantes são simplesmente ignoradas, e com frequência podemos nos surpreender e verificamos que o tempo passou e nem percebemos.

Essa abordagem do que seja o tempo me intriga, porque o tempo de que falo parece ser independente de tudo, ele parece ser absoluto, invisível, não retorna, é inexorável e parece estar ligado ao espaço, que tem uma compreensão mais simples. Newton pensava algo assim.

Indo mais fundo, os cientistas da era Einstein falam em espaço-tempo, o que derruba alguma das minhas impressões e falam de espaço e tempo relativos... Falam de dilatação do espaço e do tempo... Aí confesso o nó é górdio e vou ficando por aqui...