Visão

Me tiraram a visão, mas não me deixaram cega. Me deram olhos de terceiros, só podia ver o mundo através da visão de outros.

O feminino que grita em minhas entranhas, foi subjugado, marginalizado e até proibido, mas minha presença era necessária, estão me deram uma falsa santidade, e calaram minha boca. Passei a ser padronizada e até meus pensamentos eram vigiados por uma figura masculina, poderosa e soberana, que me transformava cada vez mais em coadjuvante, em uma película de protagonistas machistas.

Ditaram as regras da minha vida, da minha morte e pós morte. Pensei comigo porque tão perigoso era ser feminino, mas o resposta estava na fragilidade do intocável machismo de cada dia, tão frágil que tem sido protegido a qualquer custo, tão frágil que qualquer toque de feminilidade deve ser subjugado pela sobrevivência de uma falida sociedade alfa.

Aos poucos tirei os olhos alheios, que me mostraram caminhos inexistentes, recuperei minha visão, tomei minha decisão, minha somente minha e de mais ninguém. A boca deixou de ser prisioneira assim que os olhos voltaram a ver.

Ainda é difícil, lutar cada dia pra não ser subjugado por um macho alfa. Lutar para não ter seus olhos trocados pelas visões de terceiros. Ainda é difícil ser uma Maria e não uma Marionete.

Suzy Muniz
Enviado por Suzy Muniz em 31/01/2018
Código do texto: T6241769
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.