Gratidão

Dentre os diversos sentimentos que possuímos, talvez o mais difícil de ser alcançado seja a gratidão. Isso, porque, ser grato é algo que devemos fazer de forma deliberada e espontânea, para que seja verdadeiro. É olhar o gesto do outro e reconhecer que lhe custou algo, motivo pelo qual nos encontramos agradecidos. E, é justamente por isso que, ao nos sentirmos agradecidos por algo falamos, Obrigada (o).

Mais que uma locução formal para situações específicas, a palavra “obrigado”, significa estar ligado. Em resumo, a pessoa que se sente agradecida, se sente ao mesmo tempo ligada à outra que lhe prestou um gesto, de forma que que o sentimento de devedor de um favor deveria tomar conta do sujeito agradecido.

O curioso é que, a outra parte, em geral, não espera que a pessoa lhe cumpra um favor ou se sinta presa a ela. Por este motivo, a Gratidão é algo tão difícil de ser alcançado, pois ela vem dos sentimentos mais nobres, sentimentos estes, inerentes à condição de seres humanos. Sentimentos divinos, sublimes, alcançáveis e completamente humanos.

O grande problema é que, comumente esperamos coisas grandiosas para demonstrarmos gratidão. Ledo engano o nosso. Nunca seremos verdadeiramente gratos nas coisas estupendas, se não soubermos apreciar a riqueza dos pequenos detalhes.

Coisas simples, como por exemplo poder beber água, e realizar três refeições ao dia. Isso porque, além das milhares de pessoas que estão em situação de miséria, e ficam sem comer por dias, há um incontável número de doentes em leitos de hospitais que precisam se alimentar por sonda, não podem beber mais que alguns milímetros de água por dia, ou sequer sentir qualquer sabor, pois seu organismo não possui mais habilidade para digerir o alimento...

E nós? Nos “matamos” de fazer dietas malucas, para que possamos adentrar ao padrão estético estabelecido como o ideal... enquanto muitos dariam a vida para provar um último pedaço de chocolate.

E o teto sobre sua cabeça? Já parou para refletir sobre isso? Uma miríade de seres humanos sofrendo com as mazelas das alterações climáticas dia a dia, frio, calor, neve, alagamentos, tempestades, 40ºC, sem ao menos possuírem uma brigo para tais circunstâncias...

Nós? Nos deitamos confortavelmente, com ventiladores, ar condicionado, cobertores, e óbvio, algum entretenimento, filme, novela, livro, redes sociais, até pegarmos no sono. E, enquanto reclamamos, por mais uma vez precisarmos nos levantar para dar início ao dia, muitos gostariam de nunca mais acordar...

Ainda temos os nossos empregos! Quanta petulância daquele chefe, colega de trabalho, quem ele acha que eu sou? E a refeição que servem na empresa? Um verdadeiro nojo..., enquanto isso, milhões de pais de família dariam tudo para estarem com sua carteira de trabalho registrada, suportando quaisquer ossos do ofício, a fim de que no final do mês pudessem ter sua paga, além de voltarem ao final do dia realizados e honrados, pois certo é que o trabalho dignifica o homem.

Para arrematar, temos a família! Ninguém pediu para nascer na família em que nasceu, mas mesmo assim, lá está. Broncas, brigas, desentendimentos, conselhos não pedidos e, o que está por trás de tudo, cuidado. O cuidado da mãe, da esposa. A preocupação do pai e do esposo. O abraço e “te amo” sincero das crianças... aposto com você que há um incontável número de pessoas que gostariam de estar em SUA FAMÍLIA NO SEU LUGAR.

Refletindo sobre tudo isso, percebi o quanto deveria ser grata a quem me concede incontáveis riquezas. Estar intimamente ligada à Ele, e me sentir eternamente devedora.

A gratidão expressa nos pequenos detalhes, certamente me ensinará a ser grata em coisas maiores, se é que essas existem.

A sociedade moderna se tornou líquida demais, instantânea demais, fria demais, distante demais... Não se olha mais nos olhos, não se sente mais o frio na barriga, não se sente mais a compaixão e a empatia pela alma que está perdida.

Faço, um sincero apelo para que despertemos desta profunda inércia, para que possamos acordar e perceber as maravilhas que nos cercam e assim, mais uma vez, nos sentirmos “obrigados” por nosso trabalho, família e lar.

Kelly Priscila

30/01/2018

Café e Leitura
Enviado por Café e Leitura em 30/01/2018
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