____DENTRO DA ESPINHA DA FOLHA
Dentro da espinha da folha,
na fria lâmina da adaga,
na órbita confusa do verso
- Noturna -
Tarda-me a poesia quando reduzida à anatomia
da cabeça.
Dentro da pirâmide de letras,
feição quase humana na forma absolutamente
vazia,
exatamente nesse intervalo
- Noturna -
Dentro da boca carniceira,
na orquestra funerária das mandíbulas,
no passo de Cérberus
- Noturna -
Tarda-me o barco de Caronte
até o ângulo profundo de Hades.
Dentro da natureza soturna,
na verticalidade das asas em talhe de foice,
- Noturna -
Tarda-me o mundo em seus lengalengas bate-estacas.
Dentro das linhas rubras de veias entre as costelas,
nas microscópicas células,
- Noturna -
Tarda-me a consciência do mundo,
o que eu sou é essa vontade absurda de construir
a palavra!