_________E NINGUÉM SORRIA
Escravos...
E ninguém sorria, não de fato. Era tudo uma questão de imagem, vassalos do público.
E ninguém sorria! Somente quando arrebatados pela lente, na ostentação de seus enganos.
Armado o sorriso, tal qual nuvem à espera do raio,
parte pretendida em tempo de náuseas.
Quis cinco vezes e mais mil até que a imagem lhe cobrisse o vazio,
- pendeu -,
vencido e salvo e descontente e triste uma vez que murchado o sorriso.
Matéria pronta, renovada, a menear os lábios,
cujo o ensaio da boca o infortúnio encobre,
a todos, então, se adianta,
se apressa na espontaneidade falsa.
Mal segura as contas e tem nas mãos o último modelo.
As paredes em reboco,
a roupa furada,
a geladeira vazia mas a imagem,
ah, essa não lhe falta!
E de novo e outra vez!
Um leve sono,
esquecimento da própria vida.
E vão com ele as suas dívidas...
Sofre em paz as delícias da juventude
na ilusão de que alguém lhe acompanhe.
E segue a passeata,
cansado de esperar pela sua melancólica sombra que,
rebelde,
insiste no - fugir da massa.
o corpo
- marionete -,
ainda conserva a sombra que não faz idéia e
- indiferente -,
é mais um rosto anônimo e sorridente entre tantos.
É tudo uma questão de vazio,
que há muito espera
- devoto e penitente -,
o vulto animado pelas curtidas.