_____MAS VAMOS SORRIR!__
Ela sabia, jogando as cobertas para cima da cabeça... sabia!
Ela sabia, ainda não disse, mas sabia! Sabia que viria aquela janela com insistência de vida fazendo algazarra ao som dos passarinhos.
Ela sabia quando encostou a mão nos olhos... sabia que viria toda aquela ladainha.
_ Mas vamos sorrir! A seu dispor! - o mundo. - Ela já imaginava.
O mundo, quando subiu pelas montanhas com o seu sorriso amarelo, hum.... ela já sabia!
_ Segura firme aí que a gente vai fazer bonito! - o mundo. Coitado!
Começou a levantar com os seus pés de chumbo - ela -, e coçando a cabeça num misto de desânimo, irritação e impaciência.
_ Hoje a gente vai pela sombra! - o mundo. Claro! Sempre com aquele jeitinho de deixar os lençóis esticados e a rua pronta para os passos. Infeliz! Iludido! O mundo sorri mas ela sabe, ele tem os lábios apertados e aquele olhar de raposa à beira da toca da presa.
Encostando o corpo na parede, ela. Sabia a hora dos ponteiros que diziam - e aí, alguma novidade? Ponteiros filhos da puta! E quando ela encostou a mão no balcão da pia, hum... respirava fundo. Pela janela tudo parecia redemoinho. A vida lhe dava náuseas! Nem lavava mais os vidros que era para não ver mais aquele espiral de cores.
Terminou na cadeira. O café e o gosto enganado pelo adoçante. Ah, ela prefere assim, doce! É café de mulher - disse.
Olhou mais uma vez em direção da janela... suspirou. Queria temporal enquanto que a vida não parava de dizer aquelas coisas que não eram permitidas. E na borda da camisola tinha um pedacinho de biscoito. Mas ela não tinha mais aquela mania de limpeza. Mas sempre foi muito limpa e organizada e paciente. Foi. Ainda é. Depende do dia. Isso não importa. Ou talvez um pouco. Ah, é aquela preguiça de abrir todas as gavetas. Se ainda fosse inverno!
Sentiu vontade de chorar. Mas sorriu. Ou iriam se atrever a perguntar coisas. O sorriso torna tudo depressa.