O meu sentir...

Ah o doce aroma do sentir! O sabor do amanhecer com o canto dos pássaros. A leve neblina de uma manhã fria, pincelando as vidraçarias do quarto… A vinhaça adormecida, enquanto eu aqui, acordado pelo despertador dos meus pensamentos, ouvindo meu coração sussurrando coisas de amor, coisas de um SENTIR sem querer. Há alguns dias, eu não veria nada além de um dia normal lá fora. Faria as mesmas coisas, andaria pelas mesmas ruas, não enxergaria nada além de minha rotineiras obrigações. E eu estava tão ligado a elas, com minhas emoções e sensações trancadas a sete chaves. Eu era dono dos meus territórios, senhor das minhas emoções. Para você entender o que está havendo, eu congelei meus jardins há um tempo, criei defesas de alta precisão ao redor do meu coração, ergui muralhas. Escureci os dias lá pelas fronteiras da minh’alma, e eu me sentia seguro das frustrações, eu andava despreocupado com quaisquer abalos. Eu me privava de sentir, de querer! Nossa! Como era bom ser dono de mim, nem um perfume na multidão me hipnotizava, nem um sorriso me encantava, eu estava completamente livre das “malditas” paixões. Eu era auto-suficiente… Ninguém sabia do meu romantismo, ninguém avistava essa minha sensibilidade aflorada nos intensos e perdidos castanhos dos meus olhos. E aqui estou eu agora, vencido, com todas as minhas defesas ao chão, como suditos te reverenciando. Aqui estão meus olhos perdidos olhando para o nada, e imaginando tudo. Não há defesa, não guerreiro forte o suficiente para resistir a esta batalha contra o SENTIR E QUERER. Não minha amada! Não há proteção, não há razão que nos diga ou convença de não AMAR. A fuga é uma ridícula e frustrada tentativa, para onde quer que eu vá, teu sorriso é visto em muitos olhares, teu perfume é trazido a mim, mesmo quando não há a mais empobrecida brisa de vento. Eu te respiro em todos os ares do mundo, eu te ouço em todos os idiomas, as estações de rádio cantam você. As manhãs te desenham diante dos meus olhos, lá fora tudo lembra você, e aqui dentro de mim, tudo grita por você.

Foi-se o tempo em que eu era dono de mim, agora cá estou, perdido em mim, sem saber como te dizer, ou se devo dizer… Você não entenderia talvez! E o meu maior medo, não é dizer o que eu sinto, mas que você jamais seja capaz de sentir ou querer, o que agora vive em mim.

Com tantos mundos por aí, o que você veria no meu não é? Um cara pacato, desajeitado, idealista… Não sou as esquinas de Macapá, mas também estou cheio de “Sinais”, e todos eles dizem que o caminho está completamente livre para você, meus olhos me entregam a todo momento, no brilho bobo do meu jeito de olhar, reflete significativamente aquele: “Me perceba”.

Eu gritaria ao mundo o meu SENTIR, mas e se você não gostar de escândalos? Eu ficaria em silêncio, mas e se você não gostar de homens sem atitude? Parece que chegou o momento de parar de enxergar a beleza das manhãs e não dizer que é você o paraíso em todas elas. É hora de parar de mentir que só quero tua amizade, e dizer a maior de todas as verdade contidas em mim: Eu passaria uma vida atravessando desertos, para estar em teu paraíso ao menos por uma primavera.

(Hámilson Carf)