Uma vez errado ...
Supondo que realmente a Justiça esteja sendo usada para impedir a candidatura de Lula nas eleições deste ano, temos que pensar nisso como um mal que afeta não só o acusado e o PT como toda a população brasileira.
Sem dúvida existem pessoas que gostariam de ver o Lula fora da política ou preso independente de ele ser culpado ou não pelos crimes que está sendo acusado. Mas os que entendem e desejam que prevaleça o Estado de Direito, não podem aceitar a manipulação da Justiça, gostando ou não do Lula ou de qualquer outra pessoa.
O livro “Comentários a uma sentença anunciada: o processo Lula” lançado em agosto de 2017 poderia ter sido uma obra de alerta a toda a população quanto a um mal que poderia ou pode estar acontecendo no Brasil. A preocupação em elevar o nível de consciência da população será sempre válida. E isso está acima de tendências de “esquerda” ou “direita”.
Nós brasileiros somos vítimas de infinitos males que acontecem por ação ou omissão. O momento atual demonstra claramente que a corrupção de uns é quase sempre acompanhada pela omissão de outros.
O livro citado acima foi anunciando como um “movimento espontâneo” de mais de cem juristas, o que mostra, em princípio, uma preocupação com uma possível violação do Estado de Direito.
Contudo, a obra peca em pelo menos dois aspectos:
- a expressão “sentença anunciada” contida no seu título, nos dá a impressão de que se desenvolveu uma tese para se chegar a uma conclusão pré definida, o que seria a mesma falha alegada quanto a sentença condenatória de Lula, ou seja, que já havia de antemão interesse em condená-lo e todo o processo de investigação e julgamento foi conduzido com essa finalidade. No caso do livro a referida expressão condena o juiz Moro antes da leitura dos comentários dos juristas que participaram da obra e não deixa margem para os leitores tirarem suas próprias conclusões;
- contém expressões e termos que se tornaram muito particulares dentro da disputa política e ideológica que está ocorrendo no país, tais como “golpe de estado” em substituição a Impedimento ou Impeachment, “elite dominante” e “presidenta”. Num trabalho em que se pretende analisar um documento técnico, no caso a sentença do juiz Sergio Moro, o uso de termos popularescos tira em parte o mérito da obra e nos dá a impressão que ela não foi originada exatamente por um “movimento espontâneo” como foi anunciado.
Estamos vivendo uma situação em que as Instituições são vistas com quase total descrédito e duvidar delas e das pessoas ligadas a elas se tornou muito fácil. Então, cabe às pessoas que ainda almejam que o Brasil seja visto como um país sério, a firmeza de propósito de não cair no lugar comum e assim perder o crédito de suas palavras.