Sobre varandas e beija-flores
Amigos são como beija-flores e amizades devem ser como varandas abertas cheias de flores fartamente desabrochadas de plantas naturais, periódica e propriamente regadas e bem cuidadas.
Varandas sem telas, sem cancelas, sem catracas, sem ‘pedágios’ para que outros também desfrutem do mesmo espaço, nem qualquer coisa ou condição que force alguns beija-flores a se manterem do lado de fora ou que prenda outros do lado de dentro.
As flores e seu néctar devem ser o grande atrativo, não a espécie e o número de beija-flores que as beijam.
Aos beija-flores deve-se olhar e contemplar apenas, e jamais manipula-los em nenhum aspecto, sentido, nível ou grau.
Liberdade é a alma de amizades profundas e duradouras. Prenda-me numa gaiola qualquer, grande ou pequena, e minha liberdade se esvai, e, com ela, tudo o que você é pra mim. Você e eu, os beija-flores, não somos proprietários um do outro.
Nessa nossa ‘varanda’ entramos e saímos, sem medo de ficarmos presos ou excluídos, sem receios de sermos pegos em armadilhas ou açalpões. Você vem com suas belezas e levezas, eu virei com as minhas. Mantê-las será sempre nossa arte.
Aqui na nossa 'varanda', você e eu somos convidados a ser somente beija-flores; não espantalhos de milharal ou estrupícios de arrozal!
Nunca afirmemos um ao outro, "Amigo é pra essas coisas!", porque, quer saber?, amigo não é pra 'coisa' nenhuma. Amigos são amigos apenas, pura, simples e tão somente, como o são os beija-flores.
Ah, antes que me esqueça, nunca digamos um ao outro, "Só entro aqui nesta varanda se você espantar os demais beija-flores", porque no momento em que um de nós fizer isso, deixa de ser beija-flor e passa a revelar-se em ave de rapina à caça de alguma presa, voando em torno do que é putrefato.
E que nos desculpem os pássaros rapinantes, mas aqui na nossa varanda a doçura das flores é não somente fundamental e inegociável, mas também a única coisa que temos para oferecer como alimento!
(Copyright © September 2016 Luís Wesley)